FÁTIMA (4)

Onofre Varela

A ideia de, em 1917, ter ocorrido em Fátima um fenómeno OVNI, alimento-a há imenso tempo, e está escrita num projecto de livro (que o será logo que encontre editor interessado). É uma ideia que pode provocar riso. Riam à vontade. Rir é sinónimo de saúde quando a sua motivação não é o escárnio nem a ignorância. Eu não rio da crença. Respeito-a pela consideração que me merece a religiosidade dos meus semelhantes, mas procuro saber sobre ela lendo textos de Religião, Psicologia e Filosofia. E interrogo-me. Tenho opinião própria e procuro saber mais do que aquilo que é aparente e que a Religião apregoa como verdade. 

As pretensas “explicações” quando têm o duvidoso rótulo de “oficiais”, não me servem. A possível “explicação” do OVNI para os efeitos feéricos que deslumbraram todos quantos a ele assistiram na Cova de Iria em 1917, não só não explica tudo… como, na verdade, não explica nada!… 

O fenómeno de Fátima teve mais do que a observação do OVNI e da imagem luminosa de uma senhora ou menina. Também teve anúncio de jornal, no “Diário de Notícias” a 10 de Março de 1917, com o enigmático título “135917” (onde é possível ler-se a data 13 de Maio de 1917) com um pequeno texto que anunciava “o fim do nosso martírio”. Ao mesmo tempo, no Porto, grupos espíritas anunciavam, com publicação nos jornais “O Primeiro de Janeiro” e “Jornal de Notícias”, no dia 11 de Maio de 1917, que algo iria ocorrer a 13 de Maio!… 

Para estes anúncios eu não tenho explicação… e estragam a minha hipótese extraterrestre… pois não estou a ver os visitantes galácticos a passarem pelas redacções dos jornais nas vésperas do evento, encomendando anúncios!… Mas também não entendo o porquê de os “inventores da aparição” anunciarem que tal iria ocorrer!… É um enigma que não decifro. (Há por aí alguém que o saiba explicar?).

O que se sabe é que Fátima seguiu o modelo de Lourdes, com várias “aparições” periódicas, desde 11 de Fevereiro de 1858, à pequena pastora Bernadette, de 14 anos. Anteriormente, em 1846, duas crianças, também pastoras (Mélanie e Maximin), contactaram com uma bela senhora no cume do monte de La Salette, também em França. Em 1876 e 1877, três jovens alemães viram “a Virgem” em Marpingen, no Sarre, levando o Catolicismo a uma vitória sobre o Protestantismo maioritário na região.

Os acontecimentos de Fátima também foram o lançar da semente que fez nascer a imagem do “Sagrado Coração de Maria”, consolidada com a beata Alexandrina, em Vila do Conde, 40 anos depois (1957). E foi o renascer de uma indústria de santinhas de cartilha, vendidas na Cova da Iria no próprio dia 13 de Outubro de 1917, representando a imagem de Maria, no céu, rodeada por um halo de nuvens. 

As memórias de Lúcia, escritas entre 1935 e 1941, foram direccionadas pelo culto no asilo de Vilar, no Porto, (mais tarde seminário) orientado pelas irmãs Doroteias, e depois em Pontevedra e Tui (Galiza), onde Lúcia se tornou freira.

Contradições e distorções são os principais elementos da história oficial católica das aparições de Fátima, o que é de excelente utilidade para o culto... mas não serve a mais ninguém! 

Por outro lado, entre os milhares de testemunhos do “bailado do Sol”, há registos contraditórios de quem esteve a olhar para o mesmo “Sol” e não tenha observado nada de estranho ou anormal: nem cores faiscantes, nem movimentos rodopiantes ou zigue-zagueantes! Resta perguntar: a Igreja Católica apropriou-se de um fenómeno ocorrido em Fátima, ou criou-o?!…

Entre 1917 e 1919, o vigário de Ourém, Faustino José Jacinto Ferreira, tornou-se conselheiro e confessor das crianças pastoras-videntes, e o bispo de Leiria José Alves Correia da Silva, em 1921, afastou totalmente Lúcia da família e da aldeia, administrou o espaço da Cova da Iria comprado sigilosamente pela Igreja, e lançou o jornal “A Voz da Fátima”, principal órgão difusor dos interesses da Igreja naquele acontecimento. 

Na verdade, o Sol não se move, a personagem neotestamentária Maria não pode ter aparecido, e a intervenção extra-terrestre é uma hipótese fantástica impossível de ser provada.

Continuo ignorante como era no início das minhas buscas… mas os crentes são mais ignorantes do que eu, porque não se interrogam nem buscam!

Tomás da Fonseca, que se formou num seminário e foi ateu (sendo o primeiro ateu português a escrever um livro sobre o assunto) tinha outra visão do caso, a qual comentarei no próximo artigo, para finalizar esta “Novela Fatimida”… mas a questão não fica encerrada.

(Continua)

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

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