28 de maio de 1926 – 97.º aniversário (texto atualizado e aumentado)

Há quem esqueça a opressão salazarista e denigra a primeira República, para justificar a ditadura, e quem deprecie a democracia para ilibar o regime fascista que a precedeu. Deixar que o tempo apague a memória e a amnésia absolva os crimes, é um favor prestado às forças totalitárias, adormecidas e nunca erradicadas.

Há 97 anos, o levantamento militar, de índole nacionalista e antiparlamentar, trazia já no bojo o fermento totalitário que começou na ditadura militar e acabou na tirania fascista, designada antes como Ditadura Nacional.

Gomes da Costa saiu de Braga, cidade moldada pelo catolicismo reacionário, e acabou aclamado na Avenida da Liberdade, em Lisboa, à frente de 15.000 homens.

Foi a desforra dos miguelistas, do catolicismo caceteiro e dos órfãos de João Franco e Paiva Couceiro. António Sardinha, Hipólito Raposo e Rolão Preto, ideólogos do integralismo lusitano, votavam à República um ódio igual ao que tinham à monarquia constitucional. Era a liberdade que os intimidava, unidos pelo desvario que percorria a Europa e desaguaria no Fascismo.

O Centro Académico da Democracia Cristã (CADC), organismo pouco recomendável, forneceu os quadros do que viria a ser a mais longa ditadura europeia. A Constituição Política de 1933 definir-se-ia como antiparlamentar. A Igreja católica foi o esteio da longa ditadura e Salazar o algoz a quem não faltou a bênção do cardeal Cerejeira e o apoio e a admiração do fascismo internacional. O divórcio foi proibido e as mulheres casadas impedidas de administrar os bens próprios, função do «chefe de família», ou de saírem para o estrangeiro sem a sua autorização.

A instrução obrigatória reduziu-se a 4 anos para rapazes e a 3 para raparigas. As escolas foram separadas por sexos e a Irmã Lúcia acabou por confessar ao cardeal Cerejeira que Salazar era o «enviado da Providência», a expressão que Pio XI usaria para Mussolini.

Dessa longa noite, das arbitrariedades e dos crimes que colocaram Portugal na cauda da Europa, ficaram a fome, a ignorância, o medo e os altos níveis de mortalidade infantil e materno-fetal. Portugal não era a casa comum dos portugueses, foi a prisão coletiva.

Esquecidos os massacres nas colónias, a censura, as prisões sem culpa formada, a guerra colonial, os assassinatos, a polícia política, os exílios, as torturas, os campos do Tarrafal e de São Nicolau, os presídios de Peniche, Caxias e Aljube, os Tribunais Plenários, a censura, os bufos e os rebufos, e toda a violência fascista, corremos o risco do regresso.

É na história, que já se branqueia, que devemos meditar para não a repetirmos com um partido único e um salvador que garanta a paz, a prosperidade e a segurança em troca da liberdade de expressão e do pluralismo democrático.

Perante o perigoso ataque de forças reacionárias à democracia, urge defender o que resta das conquistas do 25 de Abril.

«Fascismo nunca mais»!





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