A sucessão e o ocaso do Patriarca Clemente
O Patriarca de Lisboa, Dr. Manuel Clemente, viu extinto o prazo de validade canónica como bispo titular da diocese, a cinco anos de perder o alvará de cardeal eleitor, sujeito a escrutínio dos crentes e não crentes.
O patriarca Clemente deveu o barrete cardinalício à caída em
desgraça do bispo Carlos Azevedo com a exposição de uma antiga traquinice
sexual, o que lhe permitiu viajar do Porto para Lisboa para substituir o bispo
previsto e suceder ao patriarca Policarpo.
D. João V, graças ao esbanjamento do ouro do Brasil,
adquiriu a dignidade cardinalícia para o Patriarca de Lisboa, atribuída por
Clemente XII em 17 de dezembro de 1737. Foi assim que o bispo Clemente alcançou
o barrete cardinalício, pelo qual muitos bispos perdem a cabeça, com a
transferência para a Sé Patriarcal.
O cardeal Clemente carregava já duas pesadas nódoas no
currículo antes de lhe bater à porta a divulgação pública do crime que ocultou
– a pedofilia de um dos seus padres. Foi lastimável a saída à rua paramentado
com um colete amarelo em manifestações para extorquir dinheiro do erário para
colégios privados. Pode ter descurado as almas, mas procurou defender os
interesses dos seus colégios confessionais.
Antes das eleições legislativas de 2019 publicou a lista dos
partidos concorrentes e a indicação dos que estavam de acordo com a doutrina da
Igreja católica, assinalando os dois que satisfaziam todos os critérios, o CDS
e o Chega, tendo os resultados eleitorais provado que o cardeal não teve grande
apoio divino nem do eleitorado.
Para uma saída desonrosa faltava-lhe a conivência na
ocultação de crimes de pedofilia, receber a denúncia de abusos, reunir-se com a
vítima e manter o padre em funções sem participar o caso à polícia e permitir
que o alegado autor dos abusos sexuais continuasse a gerir uma associação
privada que acolhe famílias, jovens e crianças.
Em resumo, deu ao padre a oportunidade de continuar a
delinquir e escondeu o que lhe cabia denunciar às autoridades. É uma vergonha e
foi um crime. O beijo na mão a que Marcelo o habituou não o lavou da desonra,
só humilhou o PR e o País.
O sr. Cardeal sabe certamente que, para a Igreja católica,
os pecados são cometidos por pensamentos e palavras, atos e omissões. Pode
desprezar o Código Penal, mas não pode ignorar o Código Canónico quanto à
omissão.
O Patriarcado justificou que a vítima optou por não querer
tornar o caso público, apenas desejando que não se repetisse. Se é verdade, o bispo
Clemente só tinha um caminho, renunciar imediatamente e, como crente que vê na
oração um detergente, passar o resto da vida a rezar, independentemente das
sanções penais, para lixiviar a alma.
Agora, com a nomeação do novo patriarca, o bispo Rui Manuel
Sousa Valério, major-general, comandante supremo dos católicos fardados das
Forças Armadas e de segurança, abdica das estrelas de general para ocupar a
diocese de Lisboa onde o Cardeal Clemente ficará algum tempo como simples
administrador apostólico.
Depois, aguardará o barrete cardinalício, o alvará para integrar
o consistório de onde saem os Papas e passará a ter direito ao nome canónico de
Rui Manuel Sousa Cardeal Valério – o 18.º patriarca de Lisboa.
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