(Reparei que não publiquei aqui o o terceiro e último artigo sobre Humor e ReligiãoFaço-o agora, com o pedido de desculpas ao meu Amigo Carlos Esperança e a quem me lê. Esta cabeça já não é o que era!...)


Humor e Religião (3)

Por Onofre Varela

Os religiosos que se sentem ofendidos com uma comédia quando ela brinca com elementos da sua crença, não se preocupam com nada mais que não seja a defesa da “honra da sua dama”… sem conhecerem o cartão de cidadão da ofendida! No caso do atentado brasileiro duvido do sentimento cristão do grupo de criminosos-nacionalistas, cuja reacção foi atacar à bomba!… O acto estava relacionado com o regime político da extrema-Direita Bolsonarista que permitia a violência e tinha gente da IURD sentada no Parlamento, sendo que o próprio Bolsonaro é afecto a essa seita dita evangélica, e por muitos já apontada como menos correcta… até, alegadamente, criminosa.

Os extremistas religiosos e patrióticos não pensam para além do tabu sacramental de Deus e da Pátria. Não têm sentido de humor, nem nenhum outro sentimento que não seja o da vingança violenta. A interpretação que fazem dos textos religiosos é programada pelos gurus das seitas e dos credos, e não pela sua capacidade de entendimento, a qual, não possuem. No caso da comédia brasileira aludia-se a uma hipotética homossexualidade de Jesus, o que fez ressaltar alguns condicionamentos mentais dos crentes que os levam à irritação, à fúria e ao crime.

Desde logo, temos a própria homossexualidade que, nas sociedades que se imaginam e afirmam “mais puras”, é condenada por si só, com o rótulo de “pecado” atribuído pelos religiosos sem qualquer outra análise que não seja a que é ditada pelo credo que abraçam. O problema é que a imensa maioria dos crentes não lê a Bíblia!… Dizem ser o seu livro sagrado, mas não fazem a mínima ideia do seu conteúdo!

No Novo Testamento (João: 13; 21-30) é narrada uma cena incluída no capítulo onde se encontra a célebre frase de Jesus: “Na verdade vos digo que um de vós me há-de trair”. Perante esta denúncia, os seus discípulos olharam-se, perplexos com o que o Mestre lhes dizia. A parte curiosa desta narrativa está nesta frase: “um dos seus discípulos, aquele a quem Jesus amava, estava reclinado no seio de Jesus”.

Quer dizer que Jesus só amava um dos discípulos (ou amava-o mais, ou de modo diferente, do que aos outros?), que por acaso era aquele que se encontrava ao seu colo, na posição de reclinado… isto é, deitado… o que presumia alguma intimidade para além da amizade. Simão Pedro fez sinal a esse jovem a quem Jesus amava, para que perguntasse ao Mestre quem era aquele que o haveria de trair. O jovem aproximou a sua boca do rosto de Jesus e perguntou: “Senhor, quem é?”.

Segundo esta narrativa neo-testamentária, aquele a quem Jesus amava era seu confidente e porta-voz. Através dele os outros discípulos dirigiam-lhe as questões e ouviam a resposta (pelo menos, naquele versículo assim é). A interpretação desta passagem bíblica pode ser variada… e uma das variações, tão válida como qualquer outra, pode ser entendida como havendo uma relação íntima entre aqueles dois homens!… Não é à toa que os autores teatrais tratam os assuntos históricos ou míticos. Eles lêem, estudam e investigam, para poderem fundamentar as estórias que passam no palco, na rádio, na televisão ou no cinema.

Ao contrário, os fundamentalistas religiosos só têm uma interpretação – a radical – e baseados nela arrogam-se o direito de lançar bombas contra aqueles que, dando cumprimento ao seu trabalho de criar rábulas teatrais (ou cartunes), atingem um nível de raciocínio que está vedado aos agressores por falta de massa cinzenta que lhes permita entender e tolerar.

Termino esta série de artigos sobre Humor e Religião (cujo tema não se esgota aqui porque “dá pano para mangas”) transcrevendo uma frase do meu camarada cartunista Zé Oliveira: “Produzir humor é um acto de inteligência. Produzir terror é um acto de estupidez bárbara”.

(Fim)

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)


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