Fé e Extrema-Direita
Por Onofre Varela
Na manchete do jornal Diário de Notícias (DN) da edição de 26 de Março de 2024, lê-se na largura total das suas cinco colunas: “Não vamos parar até que a Bíblia entre no Parlamento”.
Esta frase, produzida por membros de seitas evangélicas eleitos como deputados da Direita Radical, tem de ser entendida como uma ameaça à Democracia, e deve fazer soar as campainhas de alerta para a atenção de todos nós, como sirene de bombeiros convocando os soldados da paz para apagar um tenebroso incêndio.
O DN preenche três páginas da edição com uma investigação da jornalista Amanda Lima, na qual se chama a atenção dos leitores para “o uso de desinformação, provocando medo nos fiéis – naquilo que um investigador designa de «conspiritualidade», a associação de teorias de conspiração e espiritualidade – e a aliança com políticos bolsonaristas, que marcou a campanha política do Chega e do ADN e pode ter conseguido angariar votos para estes dois partidos”.
A mistura da política com o culto pretensamente evangélico (se Jesus Cristo por cá estivesse, corria estes mafarricos ao tabefe como fez na expulsão dos vendilhões no templo) fabrica um “cocktail” explosivo na mente dos mal informados (e mal formados) que encontram na fé de um credo religioso, ou seita correlativa, a “Verdade Universal” como “razão” para as suas existências e para os seus actos.
São “mentes raquíticas” que alimentam extremismos!… E se os governos não conseguem, pela educação, abrir horizontes de pensamento na mente dos Portugueses frequentadores de tais antros (alegadamente evangélicos), o futuro que se desenha e adivinha, é dramático pela destruição que faz da inteligência e da capacidade de raciocínio autónomo, criando clones dos “bispos de aviário” que do Brasil são exportados através de várias seitas maléficas para todo o mundo, tendo Portugal como um dos alvos.
“Portugal é um laboratório, nós vamos abrir igrejas em todo o país e aqui na Europa”, afirmou um desses “bispos de aviário” na abertura de uma “sala de chuto” do culto da sua seita em Vila Nova de Gaia. Após o seu inflamado discurso, os presentes naquela aglomeração gritaram: “amen, glória a Deus” e, freneticamente, aplaudiram aquela espécie de bispo-pop-star!…
(Nunca nos esqueçamos que em nome de Deus já se produziram os mais hediondos crimes que desilustram a nossa História, de que são exemplo os assassinatos cometidos pelo extremismo islâmico, hoje, e pelo extremismo católico no tempo das Cruzadas e da Inquisição chamada “Santa”).
O chamado “voto evangélico” já está em Portugal desde que a Assembleia da República abriu as suas portas disponibilizando assentos no Parlamento aos inimigos da Democracia, que estão ali com o único propósito de terminar com ela logo que o Povo, em acto eleitoral, lhes dê força política para poderem alterar a Constituição da República a seu contento e fecharem o Parlamento Democrático para férias, como fez Salazar durante 48 anos (e como pretende fazer Trump nos EUA se o elegerem, transformando os EUA numa cópia da Rússia Putinista).
Não foi por acaso que o líder da Extrema-direita portuguesa exibiu um terço, que retirou do bolso, mostrando-o, através da televisão, ao povo deste país, como isco a morder, sublinhando o seu gesto com a afirmação de aquela coisa o acompanhar para todo o lado… nem foi por acaso que, em entrevista depois de votar, disse que, dali, ia assistir a uma missa!…
A jornalista Amanda Lima refere que o novo partido ADN (Alternativa Democrática Nacional, nova designação do Partido Democrático Republicano criado em 2014 por Marinho Pinto), num relatório de 2023 da ONG norte-americana Global Project Against Hate and Extremism, é classificado como “grupo de ódio e de extrema-direita”.
A estratégia de partidos desta índole e de seitas alegadamente evangélicas, segundo o professor Donizete Rodrigues, da Universidade da Beira Interior e no Centro de Investigação de Antropologia, que investiga há dez anos a influência dos evangélicos na política, “é chamada de «teologia do domínio», já aplicada com sucesso nos Estados Unidos e no Brasil, com Donald Trump e Bolsonaro”.
Trata-se de uma ideologia “que assenta na ideia de tomar o poder para transformar a sociedade. Isso começa com um grupo, é uma ideologia extremamente ultraconservadora, que navega facilmente nos partidos ou nos movimentos de direita, direita radical ou extrema-direita, como é o caso do Trump, Bolsonaro e agora André Ventura em Portugal, além do ADN”, afirmou Donizete Rodrigues.
Cabe-nos a nós, cidadãos democratas defensores da diversidade, e respeitadores das diferenças que fazem os seres humanos, a responsabilidade de criar os anti-corpos que nos permitam defender a Democracia de tais parasitas infestadores da sociedade.
Irradiquemo-los, não pela força das armas, mas pela força do raciocínio, da razão e do comportamento social, na defesa do lema humanista: “Todos Diferentes. Todos Iguais”.
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