O AO-90 e a guerra na Ucrânia
Só há dois temas que dividem radicalmente os portugueses, o Acordo Ortográfico e a guerra na Ucrânia.
Quanto ao primeiro persistem os inconsoláveis viúvos,
incapazes de fazerem o luto de alguns acentos, hífenes e duas consoantes mudas irremediavelmente
perdidas no acordo ortográfico com o Brasil e os Palop. Mantêm-se em depressão
profunda, depois de uma geração inteira que ignora a ortografia anterior, e
acusam de traição quem aceita o AO.
Quanto à guerra na Ucrânia querem continuá-la quando os
ucranianos já aceitam a troca de território por paz e a população da UE reduz drástica
e rapidamente o seu apoio.
Incapazes de verem a guerra por procuração entre os EUA e a
China, através da Rússia e Ucrânia, pensam que a moral e o direito são mais
fortes do que a força, mas o direito internacional só é reclamado por quem não
tem força e ignorado por quem dispõe dela.
A recente da humilhação de Putin através de uma corajosa e
bem-sucedida incursão que provocou generalizado contentamento é apenas um
episódio que não altera os dados.
O que surpreende é a aposta única na vitória do Partido
Democrático nos EUA sem que a própria UE admita a possibilidade da vitória de
Trump, por ser psicopata, mentiroso e perigoso, o que é, e aceitar como
evidência a de Kamala. Mas só os americanos votam.
A UE, ao tornar-se instrumento da política externa americana,
abdicou da sua autonomia e deixou de estar atenta ao mundo multipolar que se
avizinha onde os BRICS ameaçam ser agentes de uma nova ordem mundial.
Enquanto o Acordo Ortográfico e a guerra na Ucrânia dividem
os portugueses, russos e ucranianos dizimam-se cruelmente, perante as claques
de um lado e do outro, ao serviço da estratégia onde são beneficiários os EUA e
a China, com esta a assistir na bancada.
Os argumentos morais são apenas a forma de desviar atenções
dos interesses em jogo.
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