A bruxaria – há 540 anos (efeméride)
Vale a pena ler o excelente livro de Carl Sagan, «O Mundo Infestado pelos Demónios», e penetrar nas superstições que ainda alimentam o negócio dos exorcismos cujo alvará era conferido com o sacramento da Ordem a todos os padres católicos e, agora, apenas a alguns, pelo bispo da respetiva diocese.
Os avanços médicos, em especial da psiquiatria, a melhoria
das condições alimentares e a secularização da sociedade reduziram o número de
demónios e erradicaram as bruxas, mas ainda há demónios suficientes para nutrir
o imaginário mórbido de alguns devotos.
Em 1484, em 5 de dezembro, o Papa Inocêncio VIII emitiu uma
bula papal a condenar a bruxaria que, como qualquer crente sabia, era exclusivo
feminino de pacto com o Diabo. Mais tarde enviou inquisidores à Alemanha para
julgar bruxas e iniciar a perseguição de Giovanni Pico della Mirandola,
expoente do platonismo renascentista, condenado por heresia e excomungado,
valendo-lhe a França, onde se refugiara, a fuga ao churrasco.
Morreria pouco depois, aos 31 anos, de morte natural, o
erudito cuja filosofia influiu em Leonardo da Vinci e Michelangelo, tendo-os
elevado de meros artesãos medievais, que poderiam ter sido, ao ideal
renascentista que os fez artistas geniais.
Hoje, os cruzamentos de caminhos rurais, então locais de paragem de vassouras, meio de transporte das bruxas, estão abandonados ou destinados a nichos em honra de santos de escassa virtude ou à repetida imagem da Sr.ª de Fátima com os três pastorinhos que aguardaram vários anos rezas a suplicar de milagres até à elevação à santidade.
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