Mário Soares – 1.º Centenário do seu nascimento (7 de dezembro de 1924)
As circunstâncias fazem mais pelos homens do que estes fazem por elas, mas são os homens (homens e mulheres) de exceção que moldam o futuro e marcam a História.
Há 50 anos eram de exceção os Capitães de Abril, e de
exceção foram quatro líderes civis que emergiram da Revolução que os militares
fizeram.
Raramente um único país consegue ter, em simultâneo, homens
da dimensão de Álvaro Cunhal, Mário Soares, Sá Carneiro e Freitas do Amaral, na
diversidade das suas opções políticas, dos interesses de classe que
representaram e dos projetos que serviram. Todos foram admiráveis, para lá do
julgamento pessoal das opções políticas de cada um.
Soares foi, dos quatro, o que mais influenciou a República
surgida da Revolução de Abril, sendo hoje a maior referência política portuguesa
e uma das maiores da Europa da segunda metade do século XX.
Soares foi o homem sábio que os ignaros acusaram de
inconstante sem compreenderem o pragmatismo do combatente antifascista e a
intuição do europeísta que rompeu com a tradição isolacionista da ditadura,
orgulhosamente só, e a reacionária do país que sofreu a Contrarreforma sem ter sido
arejado pela Reforma.
As circunstâncias e o homem fizeram dele o principal obreiro
civil da democracia. Foi o mais pragmático e avisado a interpretar a vontade
dos portugueses quanto ao modelo de regime que quiseram e, na defesa, pôs a sua
determinação, coragem física e intelectual, numa entrega que prolongou até ao
fim, como o havia feito na resistência à ditadura.
Recorde-se que foi preso 13 vezes pela PIDE, deportado para
São Tomé, por ordem de Salazar e, depois, exilado por ordem de Marcelo Caetano.
Foi um lutador que nunca desistiu, um vulto de rara dimensão cultural, cívica e
política.
Deixou como legado um exemplo de cidadania, e a grandeza de
preferir a derrota à fuga ao combate, certo de que vencedores e vencidos têm em
comum a coragem de lutar.
Ao gigante e patriota, de quem tantas vezes discordei, deixo
hoje, no centenário do seu nascimento, a homenagem que lhe devo.
Ontem, ao ver na AR o ódio que os fascistas lhe dedicam pela
voz do pequeno führer Ventura e pela ausência da cerimónia do grande inspirador
do atual Governo, Cavaco Silva, senti que, nos amores, ódios, covardias e
dissimulações, todos o honraram.
Obrigado, Mário Soares.
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