O almirante e o medo

A exótica candidatura, de quem se ignoram ideias, tem a vantagem de aglutinar vários medos contra quem se teme por ter demasiadas. Por ora é um vazio por preencher, uma miragem perigosa, um D. Sebastião contra Marcelo e os partidos.

Depois de uma auspiciosa candidatura, que pariu o último PR, resta o pesadelo de quem degradou o cargo e comprometeu a democracia. Não lhe faltaram ideias, nem cenários, nem o ativismo que nos trouxe aqui. Quando julgávamos que já não podia haver um PR pior do que Cavaco, excedeu-se Marcelo.

Os que votavam no PS descreem dos candidatos que já apareceram e os que votavam no PSD, nos que estão em reflexão para salvar o País. Entre quem promete salvar a Pátria e quem se julga que a salva dos partidos, escolhem o segundo.

O eleitorado, cansado de sucessivas eleições escusadas e de um PR que tanto conspirou até levar os seus ao poder, pode agora votar contra o PS e contra toda a direita.

O CDS já se ofereceu para ser o embrião de outro PRD e o Chega, que cedo simpatizou com esta candidatura, pode ser arrastado na enxurrada que varrerá o espectro partidário.

A atual correlação de forças torna difícil a eleição de um candidato à esquerda do PSD. Só assim se compreende a simpatia de Gouveia e Melo no eleitorado do PS. O medo da eleição do alter ego de Marcelo, Marques Mendes, e os esforços de Marcelo para evitar a sua candidatura reforçam a esperança desse eleitorado no almirante.

É neste cenário que a dispersão de candidaturas à esquerda faz correr o risco da segunda volta entre dois candidatos de direita, Gouveia e Melo e outro.

Se um candidato de esquerda for à segunda volta pode vencer Gouveio e Melo. Muitos eleitores do PSD o hão de preferir, ainda que o almirante expulse, até sair da Marinha, uma traineira, convenientemente atribuída à Rússia, das águas territoriais.

Mas se estiver presente um candidato de esquerda, pode vencer Gouveio e Melo porque muitos eleitores do PSD o hão de preferir, ainda que o almirante parta em glória depois de perseguir aluma traineira, atribuída à Rússia, até águas internacionais.

Tenho medo do almirante. A guerra colonial começou com um almirante em Belém.



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