José de Anchieta, os milagres e a santidade
José de Anchieta, espanhol de famílias ricas, amigo de Inácio Loyola, depois de várias peripécias, acabou a evangelizar o Brasil, que é a forma de designar a conversão à força, naqueles tempos em que se levava em uma das mãos a cruz e na outra a espada.
O padre Anchieta ensinou latim aos índios, língua que não os fez eruditos, mas tornou-os cristãos. Com outros jesuítas, começou o difícil trabalho de conversão, catequese e educação com índios tapuias, pouco dados à cultura e à devoção, talvez pelos assassinatos e pilhagem das suas aldeias e pelas tentativas de escravização das tribos indígenas, ao longo da costa, pelos colonos portugueses.
José de Anchieta, em defunção desde 9 de junho de 1957, tornou-se padroeiro do Brasil e, dadas as funções, entendeu João Paulo II, quando agilizou a indústria da santidade, elevá-lo a beato, em 22 de junho de 1980.
Os brasileiros, isto é, o cardeal arcebispo de Aparecida, eufórico com a distinção, quis a canonização do ex-aluno do Real Colégio das Artes de Coimbra. O padroeiro do Brasil não podia ser menos do que numerosos defuntos de duvidosa virtude. Nisso, os brasileiros tinham razão.
O processo de canonização do beato Anchieta, encalhado à espera de um milagre, acelerou, após a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) ter mandado uma carta ao Papa Francisco pedindo que o Apóstolo do Brasil fosse declarado santo. E foi, porque «O prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, cardeal Angelo Amato, pediu que fosse encaminhada, no mais breve tempo possível, a Positio, um texto com a biografia de Anchieta, a relação de prováveis milagres e provas de fama de santidade».
Ora, fama de santidade não lhe faltava. E foi assim que o Papa Francisco o criou santo em 2014. É pena que o taumaturgo faça esquecer o dramaturgo, autor da primeira gramática tupi e um dos primeiros autores da literatura brasileira que enriqueceu com numerosas peças teatrais, poemas de natureza religiosa e uma epopeia.
Aos jesuítas pode faltar santidade, mas não lhes mingua a cultura e preparação que fez de Anchieta uma referência cultural do Brasil tal como o é António Vieira em Portugal, o maior paladino da língua portuguesa.
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