Augusto José Monteiro - Palavras que ontem ficaram no opúsculo que os filhos editaram para comemorar o aniversário do pai
80.º aniversário do Augusto Monteiro
Os 80 anos do Monteiro são um pretexto da Gabriela e dos
filhos de ambos para reunir amigos com a família do aniversariante que aí chegou
cheio de vigor, cabelo e humor.
É ocioso falar do escritor, imaculado na prosa, do historiador
que percorre as fontes com probidade e obstinação e da obra cuja dimensão seria
maior se não lhe tomassem tempo a apresentação de livros e a revisão de textos
de amigos que recorrem à sua competência e generosidade.
Este testemunho é a homenagem ao amigo cujo humor espontâneo
e a prodigalidade dos afetos são cimento de tertúlias que florescem à sua
volta. O amigo que cumprimento com o apelido prolongado na sílaba tónica é uma
personalidade deveras singular.
É um ávido leitor. Cultiva o idioma com o desvelo de purista
e o amor de um filólogo, e é tão desleixado com os seus papéis, jornais e
livros, que sublinha, como com os objetos pessoais de que se esquece por onde
passa e o obrigam a regressar.
Recordarei sempre o Monteiro avesso às novas tecnologias, o que
resistiu ao telemóvel enquanto a obsoleta cabine telefónica da Rua António
Jardim não foi desativada e a impaciência com que aguardava que se esgotassem
as moedas à brasileira a quem a disputava para as suas chamadas.
Ainda hoje usa um aparelho rudimentar e continua a escrever
à mão antes de transferir a prosa para o computador.
O Monteiro é irreverente e iconoclasta. Há de ter provocado
irritações e criado alguns ódios de estimação, e nada é tão delicioso como imaginar
a cara dos destinatários que troca quando recebem os emails que destinara a
amigos que ficariam deliciados.
Ninguém desmascara melhor os bufos, rebufos e tartufos que andam
no espaço público como gente respeitável. Conhece-lhes as manhas, arranca-lhes
as máscaras e expõe-nos ao ridículo com a exuberância do humor e as apreciações
corrosivas a que os sujeita.
É um regalo fruir a companhia do nómada que viaja
constantemente entre Coimbra, Lisboa, Manteigas e Bragança não faltando a
funerais de amigos para consolar as famílias nem ao convívio com muitos outros
onde quer que os almoços tenham lugar.
A chegada do casal é sempre um momento ansiado e a boa
disposição cresce com a demora do Monteiro a atrasar-se no rali de
cumprimentos. A Gabriela, igualmente merecedora de encómios, na sua discrição
deixa-lhe o palco onde nos deliciamos. Ele é a estrela de primeira grandeza que
brilha na tertúlia. É estimulante seguir a sagacidade do seu raciocínio e a
beleza da exposição. É um cavaqueador que alia o humor ao rigor.
É um privilégio ter como amigos a Gabriela e o Monteiro. Daí
a alegria que a Margarida e eu sentimos em nos associarmos à reunião de amigos
a que o aniversário deu origem.
É com um abraço afetuoso que envolvemos o Augusto José
Monteiro e a sua família e saudamos todos os que connosco festejam o seu 80.º
aniversário.
Carlos Esperança
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