28 de maio de 1926
Há 99 anos, a República vergou-se à sedição militar, nacionalista e antiparlamentar, que lhe pôs termo. O que poderia ser mais um golpe de Estado, transformou-se na ditadura que as forças reacionárias já haviam tentado com Pimenta de Castro e Sidónio Pais.
As sequelas da Primeira Guerra Mundial, nas finanças e na política, a instabilidade, o mal-estar generalizado, a convergência de monárquicos, clérigos e outros fascistas que germinavam no CADC, criaram as condições para a ditadura a que poucos se opuseram na presunção do seu carácter benigno e passageiro. Em comum, todos nutriam um ódio fanático ao parlamentarismo.
De Coimbra, Cerejeira e Salazar seriam os artífices de uma aliança que não restaurou o trono, mas uniu o fascismo português e a Igreja católica, seguindo a Itália de Mussolini como, mais tarde, a Espanha do genocida Franco e vários países europeus. Em Portugal, a reflexão política foi medíocre e, longe de se afirmar numa ideologia clara, aproveitou as rivalidades entre republicanos, o ódio recalcado à República e a imitação italiana.
Um seminarista que abandonou o seminário e o outro que chegou cedo a cardeal e seria, durante décadas, a figura preponderante da Igreja católica, foram os esteios da ditadura.
Impôs-se o partido único, fortaleceu-se a polícia política e estabeleceu-se a censura. Nos púlpitos e nas escolas a apologia da ditadura e o culto da personalidade do ditador foram uma constante do regime que a cumplicidade externa e o terror interno eternizaram.
Salazar tornou-se o ditador mais longevo do século XX e Portugal o país mais atrasado da Europa.
Hoje, ao assinalar-se o 99.º aniversário do 28 de maio, devemos refletir na precariedade da democracia e ter consciência de que não há liberdades vitalícias. Sirva um dia negro da História para refletir nos perigos que nos espreitam. Durante 48 anos não existiu uma República ou uma Monarquia, houve uma autocracia cujos saudosistas, por ignorância ou vingança, não desistem de ver restaurada com um novo ditador, se possível, eleito.
A União Europeia é um guarda-chuva que ameaça desconjuntar-se com o vendaval que varre a Europa e, em Portugal, os salazaristas não serão sempre tão néscios como os últimos que a democracia alcandorou ao poder.
Por ironia do calendário, hoje 28 de maio de 2025, o fascismo renasce e ameaça chegar ao poder pela via eleitoral. É a História que se repete.

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