O PSD e o futuro

O deslumbramento do PSD com os resultados eleitorais vai conduzi-lo ao abismo. Julga que provocar eleições, para lixiviar a conduta ética de Montenegro, foi um golpe de génio. Não foi, é apenas triunfalismo de quem julga que o crime compensou.

O PS, comprometido a apoiar desmandos do PSD, abrirá espaço para mais deputados à sua esquerda, e será submergido pelo definhamento a que a esquerda, no conjunto, está condenada nos próximos tempos. Por muito tempo ou definitivamente.

O golpe do PSD começou, com a cumplicidade no interior do PS, ao obrigar a direção deste, em nome da estabilidade, a viabilizar o governo ferido na reputação pela conduta do PM. Cresceu assim o Chega, tornando-se ele a oposição, quando o PS o substituiu no frete a que seria obrigado após as eleições europeias, ainda a digerir o resultado pífio.

Depois bastou a Montenegro, hábil jogador de casino, ansioso de novas eleições quando a folga orçamental e o Orçamento de Medina o deixaram em excelente situação, usar o truque da moção de confiança para obrigar à queda do seu próprio governo.

E assim aconteceu. Surpreendente, só a desfaçatez, dele e dos seus ministros, a gritarem que o truque fora obra de Pedro Nuno dos Santos. Se rejeitasse votar contra, era acusado de aldrabão; se fosse coerente, as eleições seriam irreversíveis. E foram.

O crescimento da extrema-direita, para já, está garantido. O PSD continuará a suportar o ónus de um PM venal e incapaz de reparar as injustiças criadas com a generosa justiça aos que gritaram e o desprezo pelos outros, sem visão global sobre a função pública.

O descalabro que produziu no aparelho de Estado, com a pressa de colocar aí os seus, e a incapacidade de cumprir as promessas e expetativas que semeou, vai assustar quem apoiou a aventura AD. Depois de privatizar o que puder e de humilhar o PS com os dislates de uma governação neoliberal e o ajuste de contas com a Revolução de Abril, incluindo a revisão da CRP a reboque do Chega e da IL, desertam as clientelas que ora apoiam o PSD.

No jogo de ressentimentos cruzados abre-se espaço a um novo partido que as clientelas do PSD e do PS estão ávidas por alimentar. Foi este o vendaval que nasceu em Belém e varre o País. Marcelo, no ocaso da sua presidência, vai carpir a traição que o conduziu à irrelevância e o tornou mero paquete de Montenegro no tempo que lhe resta.

Comentários

Caro Carlos Esperança,
Parabéns pela clara exposição do presente/futuro do PSD. Pois o do PS já está à vista de todos: menos 3 deputados que o Chega! Ultrapassado como maior partido da oposição, apenas caminha para se resignar em ser muleta do PSD, quando o CEO da Spinumviva assim quiser, e o saco de pancada quando o homem sem princípios de Espinho quiser gozar com aqueles que, mesmo não votando nele, lá o puseram.
Mas, como diz, o cofre cheio para o repasto das corporações esvaziou, o PSD não terá mais nada para dar, senão fechar o cofre a sete chaves para o Estado Social e as carreiras da Administração Pública; mas arranjar um fundo para os privados com as PPP na Saúde, as privatizações da TAP e da CP. Seguindo, para acalmar o Chega e o IL, uma entrada em manada no campo fértil da Segurança Social, para entregar aos privados, e a legislação laboral será dizimada em duas penadas.
Não sei se adiantará mais uma manifestação grandiosa, como a da TSU no tempo da troika, pois as redes sociais, os bots, as notícias falsas e os comentadores avençados pelo capitalismo já têm parte do seu trabalho feito na amorfização do pensamento das pessoas, assim como a doutrinação categórica da TINA, que foi o princípio disto tudo.
Quando a nossa diáspora elege três deputados do Chega - com destaque para o pleno na Europa, com a eleição dos dois deputados -, temos o exemplo, por muito que os grunhos esgravatem no esgoto, somos um povo xenófobo, que depressa esqueceu o que fomos, o que tivemos de sair do país para outro que nos acolhesse e nos ajudasse a viver uma vida bem melhor do que aquela que cá dentro tínhamos, ao olharmos para o seu comportamento para com aqueles que querem fugir da miséria e procuram ajuda noutros países.
É cruel o mundo em que vivemos! Mas os pobres perseguem os ainda mais pobres. Um país ao contrário, que se diz católico a bater com a mão no peito, mas não passa de um cobarde, pois usa a "cunha" e o tráfico de influências quando quer pedir alguma coisa, dado que nunca pede directamente a Deus, mas pede através de outros, os Santos e Santas, para intercederem por ele/a junto do Omnipresente!
Perdoe-me este meu desabafo neste comentário abusivo na sua excelente explanação e visão factual do futuro.
Bem-haja

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