Montenegro, a ministra da Saúde e o SNS
A ministra
não tem culpa da morte da grávida do Hospital Amadora-Sintra ou de outras onde
o INEM falhou, mas é a responsável por saneamentos de quadros competentes da
Saúde, na ânsia de substituições partidárias e ajustes de contas pessoais.
A
difamação de gestores, alegando incompetência, nunca provada, para os
substituir, é uma questão de carácter. O que é grave é a incapacidade para as
tarefas que lhe cabem e a desfaçatez, até mentiras, com que justifica a
acentuada degradação do SNS.
Fracassadas
as promessas eleitorais do PM para a resolução rápida dos problemas do SNS, este
degradou-se mais, e não o melhorou a semântica. Os problemas passaram de caos a
constrangimentos e o seu agravamento mereceu a mentira de que o “a Saúde está
melhor”, como a ministra, na sua desfaçatez, afirmou.
A
incapacidade de Ana Paula Martins a gerir o SNS não é incompetência, é a tarefa
do PM. É idónea para a executar, degradar os serviços públicos e quebrar a
espinha dorsal do SNS, universal e tendencialmente gratuito. Permanece, pois,
por isso e para isso.
O PM denegriu
os governos de António Costa, e apenas pacificou algumas classes da função
pública e apaziguou os reformados, gastando a folga orçamental e as cativações
e aproveitado a dinâmica económica para fins eleitorais. Espera agora levar
Marques Mendes a PR para controlar todos os centros de decisão com gente sua.
Mas
voltemos à Saúde e à titular da pasta. É difícil encontrar alguém com tanta
falta de empatia e humanismo, características comuns aos mais altos
colaboradores que nomeia. Atingiu o grau zero da decência com declarações
previamente escritas, para explicar a morte de uma grávida e do filho, culpando
a vítima com referências despropositadas.
Era
irrelevante que a vítima falasse português, tivesse telemóvel ou pudesse pagar
uma consulta num hospital privado. Não era uma recém-chegada para ter um filho
como foi insinuado, e também irrelevante. A ministra, após ter usado informação
falsa, acabou a designá-la de “informação incompleta”.
A
entrevista a Ibraima Seidi, após a morte da sua mulher e da filha, esclareceu o
que se passou com a vítima, consultada desde julho no Hospital Amadora-Sintra e
seguida nos cuidados de saúde primários. O viúvo, que perdeu também a filha,
deu um testemunho sereno e comovente e mereceu a solidariedade de quem o ouviu.
Não de todos.
Quem viaja
em transportes coletivos que ligam a periferia à cidade, com empregadas
domésticas e trabalhadoras indiferenciadas, estarrece a ouvir culpar a vítima,
que não tinha de sair da sua terra, os hospitais são nossos e para nós. O que é
que o marido quer?
Há racismo,
e de onde menos devia esperar-se. Não foi Ventura que o criou, apenas se
alimenta dele e o amplia, explorando a insegurança, o medo e as frustrações.
É uma ironia do partido fascista, mandar para os países que ainda considera nossos, “o nosso Ultramar infelizmente perdido” as pessoas de cuja cor de pele não gosta. Mas é assim mesmo. Acreditem, leitores.

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