Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres
«(…) até que a morte nos separe.» Assim, não. Nunca mais.
As
mulheres foram sempre as vítimas prediletas, nos empregos, na sociedade e em casa.
A misoginia é uma tara que não foi erradicada. Faz parte de numerosas culturas
e está presente na nossa. Os livros sagrados que os patriarcas tribais da Idade
do Bronze nos legaram, de forma mais ou menos civilizada, continuam a ser a
basse dos monoteísmos que os funcionários de Deus, mais ou menos civilizados, impõem.
A tradição
religiosa e cultural pesa certamente na perpetuação dos crimes cuja violência
oculta a crueldade sofrida em silêncio, na humilhação de quem quer preservar os
filhos e teme pior danos.
Veja-se
como evoluiu o direito, no que se refere às mulheres, em Portugal:
1969 – As
mulheres casadas deixaram de precisar de autorização do marido para tirarem
passaporte;
1974 – Foi
autorizado o divórcio com uma alteração à Concordata do regime fascista, decretado
o acesso das mulheres a todos os cargos da carreira administrativa local, à
carreira diplomática e à magistratura, ainda com interdição de acesso às Forças
Armadas que só terminaria em 1990;
1975 – Fim
dos crimes de honra legais, com a anulação do art.º 372.º do Código Penal, que
apenas previa pena de desterro para o marido que matasse a mulher em flagrante
de adultério ou filhas menores de 21 anos, vivendo «debaixo do pátrio poder»,
que fossem «corrompidas»;
1976 – O
Art.º 13.º proíbe tratamento discriminatório em função de sexo, com alteração
dos artigos do Código Penal, o que permitia ao marido ler a correspondência da
mulher e o que atenuava a pena se a prostituísse.»
A afronta,
a humilhação e crueldade do ordenamento jurídico eram a marca da ditadura
clerical-fascista, o reflexo do apreço pelas mulheres, mães, irmãs e filhas,
num país que era o cárcere dos portugueses e a sala de tortura das mulheres.
A
violência doméstica é o legado de quem agredia, violava e flagelava as
mulheres, dos cavernícolas que impuseram um regime iníquo, onde a discriminação
das mulheres e os preconceitos misóginos se perpetuaram. Até na lei.
Urge pôr
cobro à discriminação salarial, ao acesso ao emprego e aos preconceitos contra
a mulher. Deram-se passos enormes em democracia, mas ainda insuficientes.
Hoje, “Dia
Internacional da não violência contra a mulher”, deixo este grito de revolta e
a esperança da rápida e efetiva igualdade que o respeito dos Direitos Humanos
exige.
Urge parar
os braços que agridem, ferem e matam; isolar e enjaular os que usam a força
como argumento e a agressão como vingança; reforçar a cultura da igualdade e da
convivência doméstica sem sobressaltos, medos e risco de vida.
É preciso
que todos os homens e mulheres se unam para travar os braços que agridem, ferem
e matam, onde quer que seja. É urgente erradicar a violência machista, sem
hesitações, condescendência ou citações bíblicas, com a força da lei e a
determinação de julgadores com consciência cívica e formação humanista.
No Dia
Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, deixo a minha homenagem
ao 25 de Abril e ao seu contributo para atenuar a tradição que envergonha.
Só quem recorda
de onde viemos percebe onde estamos o teme para onde vamos.
25 de novembro de 2025

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