A União Europeia, a investigação e o preconceito
Durão Barroso repete os erros e pretende passar à história não apenas como um mau presidente da Comissão Europeia mas como o mais reaccionário.
Esquecido da triste novela de Rocco Butiglione, o homem de mão de Berlusconi e do Vaticano cujas posições ideológicas indignaram o Parlamento Europeu e lhe fizeram averbar uma vergonhosa derrota, Durão Barroso reincide no que parece ser uma deriva ideológica à direita, perante o silêncio da comunicação social autóctone.
A composição do Grupo europeu de ética abriu uma polémica que compromete o presidente da CE. «Estamos chocados que tenha escolhido tantas personalidades próximas do Vaticano» declarou ao Le Monde de ontem Robert Goebbels, socialista luxemburguês especialista em questões de ética das ciências e das novas tecnologias.
Dos quinze membros do Grupo europeu, cinco são « activistas da direita católica, sem qualquer competência específica», afirmou ao Monde o deputado socialista Philipe Busquin, ex-comissário belga encarregado da investigação.
A promissora investigação sobre as células embrionárias, vital para os avanços terapêuticos e para a competição europeia, ficam dependentes de personalidades tão controversas como o italiano Carlo Casini, presidente do movimento pró-vida e membro da Academia pontifícia «para a vida» ou do polaco Krzysztof Marczewski, professor de ética da Universidade de Lublin.
À Itália, Polónia, Áustria, Eslováqua e Malta - suspeitos do costume -, junta-se agora a Alemanha como minoria de bloqueio a tornar sombrio o futuro da investigação e o seu financiamento.
Durão Barroso sai uma vez mais pela direita baixa.
Fonte: Rafaële Rivais
Le Monde – edição de 09.12.05
Comentários
Quem orienta o seu pensamento e a sua acção por valores diferentes, que passem pela primazia da vida com qualidade, do desenvolvimento da medicina, da protecção dos direitos das gerações futuras tem muito que aprender com a capacidade de organização e controlo das instituições da ICAR.
Apesar de tudo, deixo um alerta: nem toda a investigação em embriões é legítima e visa objectivos nobres, mas essa é uma conversa longa...
Agora é verdade que o pensamento biomédico precisa de maior pluralidade e maior dinâmica. E nem sempre a virtude está do lado dos que querem proibir, proibir, proibir. Galileu, Leonardo da Vinci, Vesálio, entre tantos outros, foram perseguidos por uma forte instituição do nosso Continente...
por isso é que eu sendo europeísta, sou completamente contra o rumo que a UE tem vindo a tomar.