Luís Delgado e Günter Grass

Luís Delgado (DN de 14/8) execra, e bem, Günter Grass, por ter pertencido às SS, de Himmler, nódoa que mancha a biografia do grande escritor e que o próprio revelou.

Tendo nascido em 16 de Outubro de 1927, Grass tinha 17 anos quando a guerra acabou. O horror do nazismo é, de facto, suficientemente forte para que nem a um adolescente se perdoe a conivência apesar de mais de meio século de combate contra o totalitarismo que o seduziu na juventude.

Felicito Luís Delgado pelo entusiasmo anti-nazi que revela. Bem-vindo à família dos antifascistas e combatentes de todos os totalitarismos.

Só uma dúvida me assalta – ter Luís Delgado sido um indefectível de Durão Barroso cuja longevidade no MRPP foi bem maior e não ter recordado o percurso do alemão Rätzinger (n. 16/4/1927), seis meses mais velho do que G. Grass, e seu contemporâneo nas SS.

Comentários

Anónimo disse…
O período vivido pela juventude alemã durante o advento do nazismo é um assunto complexo nomeadamente no campo das pulsões a que os jovens estavam sujeitos pelas manifestações de massas sob a batuta de Goebbels, baseadas em dois princípios fundamentais: agitação e propaganda.
Por outro lado, as encenações públicas e os elaborados rituais nazis - com uma impressionante "ordem unida", eivada de simbolismos históricos, com certeza que impressionaram e marcaram os jovens levando-os a participar nas organizações juvenis hitlerianas.
Outros - como Gunter Grass aos 18 anos - foram subitamente transportados das paradas militares geometricamente preparadas e ornamentadas para uma cruel guerra acabando feridos, estropiados ou mortos. Gunter Grass é ferido e acaba preso em Marienbad (Checoslováquia). Aos 19 anos começa a trabalhar no duro (pedreiro, mineiro, etc.) para sobreviver.
Mais tarde teve oportunidade de estudar desenho e escultura na Academia de Arte de Düsseldorf e posteriormente freqüentou a Academia de Artes de Berlim de 1953 a 1955. Em 1956 muda-se para Paris e dedica-se à literatura publicando uma contudente crítica social à doutrina nazi o livro "Die Blechtrommel" (O Tambor, 1956). Só este facto deveria ter "contido" a prosa de Luís Delgado, mas reconheça-se que lhe interessava passar ao lado...

Desde esta primeira publicação embrenha-se numa profunda renovação da literatura alemã (do pós-guerra) por meio de textos ironicos e grotescos. Com paticular acutilância satiriza a complacente atmosfera do "milagre económico" da reconstrução pós-nazista. Marshall (o seu palno) era um Deus para a Europa. Hoje sabemos que teve razão antes do tempo.
Toda a sua vasta obra contesta, as o ideário que o seduziu na juventude. Hoje é o porta-voz literário da geração alemã que cresceu durante o nazismo. Sucede a Saramago no prémio Nobel da Literatura (1999), o que premeia a globalidade da sua obra literária.
E, acrescento eu, a sua postura cívica de homem de esquerda e citando " um devoto da iluminação numa era cansada da razão".

O que merece a Luís Delgado a seguinte prosa:
"um esquerdalho puro e duro, do mais radical que existe e existiu, Nobel da Literatura, que após o 25 de Abril era uma das fontes de inspiração de grupos que queriam o modelo estalinista e/ou maoísta em Portugal, e que disse e escreveu prosas intolerantes e delirantes sobre a democracia ocidental,..."

Ah! Leão...

Embora, seja avesso ao sistemático "branqueamento" político do passado, um mal useiro e vezeiro no nosso País depois do 25 de Abril, a verrinosa escrita de Luís Delgado, afere (confere) a oligofrenia analítica e opinativa do dilecto pupilo de Durão Barroso que o guindou a presidente da comissão executiva da Lusomundo Media.

De facto, para a direita salioia e inculta dos "escrivinhadores" trauliteiros, sempre ao serviço (24 horas /dia) para denegrir a esquerda, usando qualquer motivo, qualquer atoarda que sirva para tentar conspurcar (apoucar) os Homens.

G. Grass foi um jovem iludido pelas ideias nazis em 42-43;
Luís Delgado - 60 anos depois - continua a ser um vendedor de disparates, um mistificador dos comportamentos e um deturpador dos percurso político e da sensibilidade cultural das pessoas.

E há quem lhe pague para isso - em nome do combate à esquerda.
Anónimo disse…
«G. Grass foi um jovem iludido pelas ideias nazis em 42-43»;

e-pá:

Quando terminou a guerra Grass ainda não tinha 18 anos.

Em 42 fez 15 anos.

Surpreendente é a severidade para com Grass e a benevolência para Durão Barroso e Bento XVI.

De um comissário político de Durão Barroso pode esperar-se tudo.
Anónimo disse…
CE:

É o próprio G. Grass que revela ter-se apresentado aos 15 anos no Arbeitsdienst (Serviço de Trabalho) como voluntário.
Portanto, em 1942.
Este serviço de "trabalho voluntário" foi posteriormente instrumentalizado (a instrumentalização das pessoas é um método fascista!) pelas SS nazis como fonte de recrutamento desses jovens para os seus quadros.
Insidiosamente, só em 1994, em Dresden, teve plena consciência que integrando as Waffen-SS, portanto, aos 17 anos, já estava - como força especial sob o comando do sinistro Heinrich Himmler - envolvido, como militar (adolescente), na II Grande Guerra.
Anónimo disse…
Errata:

onde está:
"Insidiosamente, só em 1994, em Dresden, teve plena consciência que integrando as Waffen-SS, portanto, aos 17 anos,...

devia estar:
"Insidiosamente, só em 1944, em Dresden, teve plena consciência que integrando as Waffen-SS, portanto, aos 17 anos,..."

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