Ribeiro e Castro e o CDS

O CDS não é a «banda» designada pelo precário líder Ribeiro e Castro, num lapso de género, é um bando que hesita entre o conservadorismo civilizado e a direita extrema.

O bando tem a sofreguidão do poder mas é maior nele a vocação autofágica. Devorou o fundador do partido em zelo antropofágico e, em exaltação reaccionária, exumou da sede onde se acoita a foto de Freitas do Amaral.

Com Lucas Pires convertido à moderação democrática e sedução europeia, o bando não conteve o azedume e ressentimento e entrou em histeria predadora.

O CDS é o único partido parlamentar que, depois de excomungar o fundador, entrou na sanha devoradora de sucessivos líderes. O partido que se diz democrata-cristão exonerou a democracia do seu comportamento e deu ao cristianismo residual o sabor medieval do concílio de Trento e a bondade da Inquisição.

A recente aproximação do actual líder e futuro proscrito, Ribeiro e Castro, ao ex-líder e já proscrito Manuel Monteiro, foi mais uma gota de água no copo que nunca deixou de transbordar, uma acha na fogueira permanente que consome o CDS, o rastilho que detonou a raiva do bando cujo declínio se aproxima da extinção.

O CDS nasceu para integrar os salazaristas recuperáveis no seio da democracia. Freitas do Amaral e Adelino Amaro da Costa foram os rostos dessa estratégia a que se juntou Lucas Pires.

Sendo a nostalgia mais forte do que a tentação democrática e a vocação reaccionária mais intensa do que a condescendência com a Europa, o CDS transformou-se de um partido de democratas com eleitores ressentidos num bando de ressentidos quase sem eleitores.

O funeral que se avizinha é um episódio da luta que lavra no seio da direita portuguesa.

O desaparecimento do CDS é talvez o passo necessário para o aparecimento de um Le Pen à portuguesa, eventualmente com fato às riscas e sem olho de vidro, possibilidade que espreita num período em que as dificuldades económicas se tornam o húmus em que florescem extremismos nos dois lados do espectro partidário.

Apostila – Maria José Nogueira Pinto diz que Manuel Monteiro «não representa nada». Já disse de Paulo Portas que valia menos do que o rato Mickey e o mancebo, de feira em feira, chegou a ministro da Defesa e encheu de gente do CDS, pouco recomendável, aliás, os piores Governos do regime democrático.

Comentários

Mano 69 disse…
Comentário tonitruante este, até porque o CDS já foi governo com o PS...
Anónimo disse…
O Esperança, quando aguça a pena e afina a pontaria, é assim.
Está aí no seu melhor. E aproveitem, que isto não dura toda a vida!
Muito suspeito de que ele preferia não ter que usar esta rudeza. Que preferia ter um país decente, onde a própria direita mostrasse utilidade e tivesse alguma compostura.
A malta que aprendeu a sonhar é assim, não tem emenda. Nem quer ter.
Anónimo disse…
Quando falares de Adelino Amaro da Costa lava a boca, ó Esperança. Ainda me lembro dos teus festejos em S. Sebastião aquando de Camarate.
Tu és um «auto-revisionista», mas esqueces-te que há quem te conhece dos tempos do mdp/cde... os teus vizinhos todos sabem quem foste e quem és...
Autofagia é o que tens feito ao teu passado...
Carim disse…
"O CDS nasceu para integrar os salazaristas recuperáveis no seio da democracia"

Muitíssimo bem observado
Mano 69 disse…
"O CDS nasceu para integrar os salazaristas recuperáveis no seio da democracia"

Excelente e na mesma linha de

"O PS nasceu para integrar os comunistas recuperáveis no seio da democracia"

(a silly season ataca outra vez)
Anónimo disse…
Mano 69:

O PS tem partidos homólogos em todas as democracias europeias e não só.

O CDS não.

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