Ramalho Eanes referiu como trágica a descolonização em que «milhares de pessoas foram obrigadas a partir para um país que não era o seu». Tem razão o ex-PR cujo papel importante na democracia e o silêncio o agigantou depois da infeliz aventura por interposta esposa na criação do PRD e da adesão à Opus Dei, sempre por intermédio da devota e reacionaríssima consorte, que devolveu o agnóstico ao redil da Igreja. Eanes distinguiu-se no 25 de novembro, como Dinis de Almeida no 11 de março, ambos em obediência à cadeia de comando: Costa Gomes/Conselho da Revolução . Foi sob as ordens de Costa Gomes e de Vasco Lourenço, então governador militar de Lisboa, que, nesse dia, comandou no terreno as tropas da RML. Mereceu, por isso, ser candidato a PR indigitado pelo grupo dos 9 e apoiado pelo PS que, bem ou mal, foi o partido que promoveu a manifestação da Fonte Luminosa, atrás da qual se esconderam o PSD e o CDS. Foi nele que votei contra o patibular candidato do PSD/CDS, o general Soares...
Comentários
As Misericórdias são o "grosso" das instituições no nosso País [na maioria tuteladas pela ICAR] que se dedicam à solidariedade social.
Integram um sector cada vez mais importante - o social - que tem como objectivo "gerir" as prestações sociais, sob uma perspectiva caritativa e com benefícios de toda a ordem, inclusivé, fiscais.
O seu campo de acção é vasto e extende-se à saúde, à educação, à solidariedade social, etc.
O Estado tem "delegado" algumas das suas responsabilides [relativas ao Estado Social] em diferentes áreas. Na Saúde, p. exº., os cuidados continuados estão maioritáriamente a ser desempenhados por IPSS's onde, por detrás, se "encontram" muitas Misericórdias. É um longo trajecto histórico - desde os tempos medievos - e que se reforçou, há mais de uma década, no Governo de A. Guterres, decorrente da sua estreita relação com o então presidente da UM - Vitor Melícias.
Logo, a presente decisão da CEP portuguesa antecipa uma visão neoliberal para o futuro, onde o Estado Social será progressivamente esvaziado.
Um volume de "negócios" tão volumoso e uma posição tão relevante na área social tem necessáriamente de ter uma gestão centralizada - forte, eficiente e com influência política - que ultrapassa a União das Misericórdias. Aí surge a CEP.
O Estado, dentro do princípio da laicidade, não deveria divorciar-se desta quezília...
Ao fim e ao cabo, tratam-se de funções inerente ao Estado [dentro do modelo social vigente] que foram delegadas a instituições sociais. Tem o dever de regulação.