Antes das 11 horas da manhã, uma numerosa comitiva de polícias, militares da GNR, e alguns outros do Exército, tomaram posições em frente à Igreja de Santa Cruz. Bem ataviados esperavam a hora de deixarem a posição de pé e mergulharem de joelhos no interior do templo do mosteiro beneditino cuja reconstrução e redecoração por D. Manuel lhe deu uma incomparável beleza. Não era a beleza arquitetónica que os movia, era a organização preparada de um golpe de fé definido pelo calendário litúrgico da Igreja católica e decidido pelas hierarquias policiais e castrenses. Não foi uma homenagem a Marte que já foi o deus da guerra, foi um ato pio ao deus católico que também aprecia a exibição de uniformes e a devoção policial. No salazarismo, durante a guerra colonial, quando as pátrias dos outros eram também nossas, não havia batalhão que não levasse padre. Podia lá morrer-se sem um último sacramento!? Éramos o país onde os alimentos podiam chegar estragados, mas a alma teria de seguir lim...
Comentários
As Misericórdias são o "grosso" das instituições no nosso País [na maioria tuteladas pela ICAR] que se dedicam à solidariedade social.
Integram um sector cada vez mais importante - o social - que tem como objectivo "gerir" as prestações sociais, sob uma perspectiva caritativa e com benefícios de toda a ordem, inclusivé, fiscais.
O seu campo de acção é vasto e extende-se à saúde, à educação, à solidariedade social, etc.
O Estado tem "delegado" algumas das suas responsabilides [relativas ao Estado Social] em diferentes áreas. Na Saúde, p. exº., os cuidados continuados estão maioritáriamente a ser desempenhados por IPSS's onde, por detrás, se "encontram" muitas Misericórdias. É um longo trajecto histórico - desde os tempos medievos - e que se reforçou, há mais de uma década, no Governo de A. Guterres, decorrente da sua estreita relação com o então presidente da UM - Vitor Melícias.
Logo, a presente decisão da CEP portuguesa antecipa uma visão neoliberal para o futuro, onde o Estado Social será progressivamente esvaziado.
Um volume de "negócios" tão volumoso e uma posição tão relevante na área social tem necessáriamente de ter uma gestão centralizada - forte, eficiente e com influência política - que ultrapassa a União das Misericórdias. Aí surge a CEP.
O Estado, dentro do princípio da laicidade, não deveria divorciar-se desta quezília...
Ao fim e ao cabo, tratam-se de funções inerente ao Estado [dentro do modelo social vigente] que foram delegadas a instituições sociais. Tem o dever de regulação.