Danúbio escarlate...
As imagens do lamaçal tóxico de cor escarlate que invade as regiões periféricas de Budapeste provenientes de um acidente ocorrido numa fábrica de produção de alumínio, em Ajkaque [Hungria], criaram uma torrente assassina que tudo arrasta [e arrasa] à sua frente caminhando inexoravelmente em direcção ao Danúbio [rio mítico que une a Europa do Norte, a Europa de Leste, a Europa Ocidental e a Europa Mediterrânica] vem demostrar que as catástrofes ambientais causadas pela indústria pesada não são tão raras. Escassos, contudo, são os planos de contigência.
Sabendo que as indústrias extractivas [nomeadamente de metais pesados] localizam-se junto cursos de água [rios, lagos, etc.], não se compreende como a jusante desses rios não se construem diques de retenção para conter os previsíveis e devastadores danos humanos, ambientais e patrimoniais.
Esta tragédia que enluta a Hungria, não sei porquê [talvez pela torrente escarlate?], recordou-me um falacioso e presumido correspondente, em Paris, da extinta Emissora Nacional, chamado José Augusto, que debitava uma crónica diária [semanal?] chamada "Varanda da Europa". Em finais de 1956, para dar uma impressiva imagem da ocupação de Budapeste pelas tropas soviéticas, transmitiu uma enfática e emotiva mensagem aos microfones da EN, que a minha curiosidade de pré-adolescente, reteve:
"...Enquanto o Danúbio se transforma num caudal de sangue, a emissora nacional de Budapeste transmite música de jazz..." (cito de memória)
Bem. Não sei que "música" ouve - perante esta nova catástrofe - o povo magiar. O que, de facto, o Mundo ouve são lancinantes gritos de desespero das indefesas populações aí residentes, perante os reiterados protestos de inocência dos responsáveis [industriais, ambientais e governamentais].
Ou será a "imaginária música popular dos magiares", que imortalizou Béla Bartók?...
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