Notas soltas: março/2013
Vaticano – O mês começou com um papa emérito, privado da tiara,
do camauro, batina do pescador, sapatinhos vermelhos e anel. Conservou a
santidade e o pseudónimo de Bento XVI, mas perdeu a infalibilidade e o alvará
para criar santos e cardeais.
Manifestação – Quando mais de 1 milhão de portugueses sai à rua
para contestar a política, perante o desprezo dos governantes e o silêncio do
PR, cresce a raiva e o asco de quem sofre o desemprego, a miséria e o
desespero.
Oposição – O sectarismo é doença senil de detentores da verdade
única, unidos pela graça de uma qualquer vulgata, impedindo a unidade política
da luta contra o rumo deplorável que nos arrasta para o abismo.
Venezuela – Há quem não apreciasse o estilo de Hugo Chávez, que
ganhou as eleições de forma limpa, amava e era amado pelo seu povo. Combateu o
analfabetismo e a fome. Deixou um rasto de luto em todo o continente americano,
a sul dos EUA.
PR – Cavaco publicou o Roteiro VII, exótico nome da publicação
anual das suas intervenções. O silêncio perante a atual governação contrasta
com a violência com que zurziu a anterior. Vai ser penoso aguentar mais três
Roteiros.
António Borges – A desfaçatez do ‘ministro’ das privatizações,
afirmando que «diminuir salários é uma urgência», foi uma provocação grosseira
incómoda para quem o nomeou e, por cumplicidade ou cobardia, consente que se
mantenha em funções.
Vaticano – O novo Papa é argentino e deixou eufóricos os fiéis
que aguardaram o anúncio, à chuva. Qualquer que fosse o novo detentor da
infalibilidade e da tiara teria o júbilo dos crentes e as críticas dos
adversários. Aos últimos não faltam motivos.
Madeira – Perante a suspeita da ocultação da dívida, contraída
para prejudicar Sócrates – como afirmou –, a presunção de inocência não
funciona perante a opinião pública habituada à insensatez e irreverência do
irresponsável presidente da Região.
Francisco – O novo Papa, perante a descrença que atinge a
Europa, quer uma Igreja para os pobres. Em Portugal, o Governo, em geral, e o
ministro das Finanças, em especial, encarregaram-se de lhe facilitar o caminho
para a propagação da fé.
Chipre – Os adversários da moeda única e da União Europeia,
unidos, não fariam mais, nem melhor, para desprestigiar ambas. Os ministros das
Finanças, onde não faltou Gaspar, assaltaram os depósitos bancários. Um aviso a
Portugal.
União Europeia – O assalto a Chipre, com 800 mil habitantes,
foi um ensaio infeliz. Depois desta chantagem outro país se seguirá. A Europa e
o euro não aguentam um par de Chipres.
Belmiro de Azevedo – Ao afirmar «não saber porque não deve
haver economia baseada em mão de obra barata», revela a arrogância dos ricos, a
insensibilidade dos poderosos e a insolência dos idiotas.
Grândola – Deixou de ser apenas a canção que traz à memória a
gesta heroica da resistência à ditadura e a senha da Revolução de Abril.
Converteu-se na arma com que o povo afugenta os governantes como ratos de um
barco que se afunda.
FMI – O chefe da missão em Portugal, Abebe Selassie, disse em
entrevista, estar “chocado com o desemprego e recessão”. Dado a sua
corresponsabilidade nas medidas que o Governo quis ultrapassar, assumiu o
falhanço e inépcia da troica.
SIED – O antigo espião, Silva Carvalho, acusado de abuso de
poder, violação do segredo de estado e acesso indevido a dados pessoais, foi
colocado na presidência do Conselho de Ministros com vencimentos retroativos a
1/12/2010. Quem não pode impor o silêncio, compra-o. Uma vergonha que exonera a
ética e a responsabilidade.
Sócrates – O regresso do ex-líder do PS à TV não altera a
opinião dos eleitores a seu respeito mas soltou a pulsão censória e o ódio de
quem aceita a presença regular de Santana Lopes, Marcelo, Ferreira Leite e
Marques Mendes.
PR – A acusação direta de Sócrates sobre a cabala contra o seu
Governo, urdida em Belém, é tão grave que atinge em cheio o carácter do mais
alto magistrado do País e o deixa vulnerável se não der uma explicação
plausível, que se espera há anos.
Espanha – Há documentos que parecem provar que a Casa Real
conheceu, facilitou e favoreceu os negócios do genro do rei e da princesa
Cristina. Uma eventual condenação, na família real, põe em causa o regime que
os espanhóis não sufragaram.
Itália – À semelhança da Grécia, o sufrágio popular traduziu-se
num voto de protesto, com manifesto desprezo pelos partidos. Não há democracia
que resista a tantos malogros e o efeito de contágio é tão rápido na política
como na economia.
Coreia do Norte – O obscuro país, vítima de uma ditadura
hereditária, aumentou a escalada belicista com ameaças aos Estados Unidos. A
possibilidade de um conflito nuclear passou do campo da retórica para a
iminência da tragédia.
Faceboock – Foi o meio de resposta de Cavaco Silva às acusações
de Sócrates: «Não é através de uma retórica inflamada e vazia de conteúdo que
se defende o interesse nacional». Quanto ao grave caso das escutas, voltou a
remeter-se ao silêncio.
Filipinas – A mortificação de jovens, que se flagelam e fazem
crucificar, são o exemplo obsceno do que pode a tradição e a fé, perante o
silêncio dos bispos, o júbilo da população e a indiferença divina.
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