«Um Presidente em tempo de crise»
«Um Presidente em tempo de crise»
Faz hoje dois anos que o ora eremita de Belém, emigrante de Boliqueime,
tomou posse do segundo mandato como PR depois de, na hora da vitória, ter
proferido um discurso onde o ódio a Sócrates mostrou a massa de que é feito e a
grandeza de que é capaz.
Ontem, surpreendeu o País, não pelo que disse mas por ter
falado, aproveitando a saída precária a uma fábrica de moagens, para anunciar a
divulgação na página da Presidência da
República na Internet, do «texto do Prefácio do livro "Roteiros VII",
que reúne as intervenções mais significativas que produzi naquele período»
[sic] e a estatística das horas de trabalho, até ao fim de semana.
Quem pensava que as
intervenções mais significativas eram as ausências e os silêncios, ficou a
saber que “o Prefácio diz respeito ao
modo como deve atuar um Presidente da República em tempos de grave crise
económica e financeira, como aquela em que Portugal tem estado mergulhado nos
últimos anos." As pseudoescutas que imaginou, a compra da casa da
Coelha ou o anúncio das dificuldades em pagar as despesas com as míseras
reformas que recebe, são contas omissas de anteriores Roteiros.
Nos dois últimos anos, de que só o próprio se orgulha, chamou a si o
papel de “principal embaixador do País”, poderes que, após a revisão
constitucional de 1982, nunca poderia exercer mesmo que os outros países o
levassem a sério.
No plano interno refere os debates sobre política interna e externa com
Passos Coelho, o interlocutor que não dá provas de saber alguma coisa de uma ou
de outra, desistindo dos portugueses que o elegeram numa aparente vingança pela
vitória tangencial verificada pela primeira vez num segundo mandato .
Passou o primeiro mandato a falar de lealdade institucional e,
apanhando o Governo em minoria, acusou-o logo de «uma falta de lealdade
institucional que ficará registada na história da nossa democracia», como
escreveu no VI Roteiro, o nome que dá ao balanço de cada ano .
Este ano escreveu o VII Roteiro. Não sei se o País aguenta mais três
Roteiros nem se o nome é uma gralha repetida, onde devia estar «Rotineiros». Um
banqueiro incontinente verbal virá certamente dizer-nos: «Ai aguentam, aguentam…».
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