Os meandros e os calendários nas negociações UE, FMI e Grécia …
A UE tem dado mostras que se encaminha para adoptar o ‘Grexit’ julgando que essa fractura (e factura) não terá consequências de maior e a libertará do ‘problema helénico’, deixando os gregos entregues à sua sorte.
Na reunião de Primavera do FMI de há 2 dias, Jacob Lew (Secretário de Estado do Tesouro dos EUA) advertiu o presidente do Euro Grupo, Jeroen Dijsselbloem, que não chegar a um acordo [entre as ‘instituições’ e a Grécia] “criaria problemas imediatos para a Grécia e incertezas para a Europa e para a economia mundial como um todo” link.
Esta recente versão desmente o postulado germânico, defendido por Angela Merkel, e ‘imposto’ aos parceiros europeus, de que a saída da Grécia da Zona Euro (‘Grexit’) não teria consequências de maior para a UE.
Trata-se de uma posição política que a julgar pelo anunciado não é recente, nem decorre das negociações em curos ente a UE e o novo governo grego dirigido pelo Syriza de Alexis Tsipras link . O artigo do Der Spiegel (online), de 5 de Janeiro de 2015 (o novo governo grego decorre dos resultados eleitorais de 25 de Janeiro), já mencionava – com um ‘avanço’ de 3 semanas - essa estratégia política link.
A substituição da ‘teoria do dominó’, i. e., do ‘contágio’ que a aceitação das reivindicações do novo governo grego poderia provocar noutros paíse europeus que têm mostrado resistências às políticas austeritárias emanadas de Berlim, pela ‘teoria da cadeia’, que poderia tornar os elos mais fortes com ‘o expurgo’ dos contestatários é a nova nuance política construída pela dupla Merkel/Schauble.
A intervenção dos EUA, há 2 dias, veio recolocar o problema grego numa dimensão geopolítica e estratégica que Berlim faz questão em ignorar. Por outro lado, a pressão que vem sendo feita por Berlim, Bruxelas e Frankfurt à volta do espectro de um ‘incumprimento’ grego, poderá ser aliviado pelo recente acordo Atenas – Moscovo sobre o gasoduto Turkish Stream (previsto para ser assinado em 21 de Abril) link, já que prevê a entrada de 5.000 milhões de dolares nos cofres helénicos.
Esta ‘folga’ deverá ser aproveitada por ambas as partes mas, efectivamente, joga contra os interesses de Berlim que desejaria ‘arrumar’ liminar e rapidamente o novo governo de Atenas, transformando-o num exemplo (teoria da 'vacina') para os outros países europeus.
Esta estreiteza de visão a par da cega obsessão pela austeridade poderá ter custos mais elevados do que ‘ajudar’ a Grécia, vítima de um programa de intervenção absurdo, incompetente e fracassado.
Aliás, os saldos das intervenções externas levados a cabo pelas ‘instituições internacionais’ (FMI, BCE e CE) em Portugal, Irlanda, Chipre e, noutra medida (sem programa explicito), em Espanha e Itália, estão longe ser os êxitos que Berlim teima em apresentar e 'incensar' como uma miraculosa confirmação da chamada ‘austeridade expansiva’.
O futuro (não tão distante como é suposto) nos dirá de sua justiça. Mas o arrastar das negociações entre a UE, FMI e a Grécia transmite-nos a ideia que, para já, o impasse assemelha-se mais a ‘gato escondido com o rabo de fora’. E sabemos que o tempo sempre jogou contra os embustes.
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