O meu desejo
Não creio que o conjunto da dívida pública, privada e das empresas
possa algum dia ser paga por Portugal. Há erros nossos, com certeza, e com mais
certeza, ainda, do sistema capitalista para o qual não se veem alternativas democráticas.
Nem exemplos alheios.
A curto prazo teremos de viver da esperança infundada e de justificadas
certezas de que não teremos pior Governo, tão desvairada maioria e tão inepto
PR, depois de o povo ser chamado às urnas. O que poderemos ter é uma
instabilidade que nos desgrace perante a teimosia do PR, que persiste em não
antecipar em dois meses as eleições que, a troco da submissão do PS, prometia
para 15 meses antes.
O PSD e o CDS, que ontem anunciaram o conúbio eleitoral,
depois da desastrada união de facto, com saídas de casa e adultérios
recíprocos, com o sacristão de serviço a ungir a promiscuidade, garantem a progressão
da inépcia e a ausência de um módico de respeito pelo serviço público e pela
legalidade democrática. Com um terço dos eleitores, tolhidos pelo medo ou arregimentado por angariadores, ficarão
longe da maioria mas com poder para travarem uma solução de esquerda onde as
divisões jogam a seu favor.
Num parlamento que se prevê atomizado, sem maioria coerente,
estaremos de novo à mercê da chantagem desta direita a guinchar que, sem ela,
não há solução, sabendo que, com ela, será sempre pior. E poderá voltar a ser.
A situação desesperada que esta maioria, este governo e este
PR escavaram não garante um futuro risonho. Que cada um saiba escolher o menos
mau dos partidos que disputam o mercado eleitoral. É o meu desejo.
Resta a alegria de saber que nunca mais o adversário do 25
de Abril, alérgico aos cravos e à CRP, voltará a arengar na Casa da Democracia,
num dia que lhe causa azia e ao qual deve o que não merecia. O melancólico
discurso de despedida foi mais um exercício de mediocridade, de apelos
repetidos até à náusea, sem assumir as culpas que lhe cabem. Foi o epitáfio para
o último Roteiro, sem grandeza nem seriedade.
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