25 de Abril de 2015 – Aos capitães de Abril

Tecendo a manhã de todas as esperanças, o MFA fez raiar a mais radiosa de todas as auroras naquele distante ano de 1974. Abril era mês e 25 o dia resgatado do calendário para o sonho coletivo da liberdade, com cravos floridos nos canos das espingardas.

Nunca uma revolução fez tanto, em tantos séculos de país, para, de um só golpe, abrir prisões, derrubar a censura e abrir as portas da democracia. O 25 de Abril não é um dia, é o dia da História e das nossas vidas, o dia inapagável que traçou a baliza e a marca, o antes e o depois, do cárcere à liberdade, da ditadura à democracia, da guerra à paz.

Foi o dia em que os capitães, que fizeram a guerra, impuseram a paz, numa epopeia em que a coragem de um dia resgatou do opróbrio da ditadura um povo amordaçado.

Ao comemorar os 41 anos da data que os democratas trazem dentro de si, na mágoa de verem os que o traíram, alérgicos ao cravo e ao povo que os elegeu, recordamos a gesta heroica dos que arriscaram a vida para nos devolverem o direito de decidir o destino.

Da guerra sem fim, da discriminação da mulher, da censura e dos cárceres, dos bufos e rebufos, resta hoje a amarga presença dos notálgicos da ditadura, de ingratos e traidores, esperando que o 41.º aniversário seja o último que ostracize os capitães que nos deram o direito ao sonho e à liberdade e o primeiro que sirva de epitáfio a quem os trai.

No sonho de outras manhãs que nos libertem do pesadelo da pobreza, do desemprego e da vingança contra Abril, deixo o poema do poeta brasileiro João Cabral de Melo Neto:

Tecendo a Manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

(João Cabral de Melo Neto)

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