A TAP, a reforma administrativa e outros desmandos

O bando que gerou esta maioria e o Governo, que se apoderou do PSD e do poder com a cumplicidade do PR, ignorou a reforma administrativa a que estava obrigado, mantendo um mapa autárquico obsoleto. Foi a oportunidade perdida na cosmética inócua da fusão de umas dúzias de freguesias, conservando concelhos sem massa crítica, freguesias com falsos habitantes e a manutenção faraónica de lugares político-partidários, no aparelho de Estado, nas Regiões Autónomas, Assembleias regionais, municipais e de freguesias, as redes de caciques que interessam a todos os partidos.

Este Governo, onde coexistem ressentidos com o 25 de Abril, nostálgicos salazaristas e académicos politicamente incapazes, fez do País o laboratório político de experiências fracassadas e a desforra contra a saúde, a cultura e o ensino do Estado.

Deixado à solta pelo PR, ou com o PR preso, sabe-se lá porquê, o Governo apostou em deixar uma herança pior do que recebeu, com os portugueses espoliados de anéis e com vontade de lhes amputar os dedos, ansioso de exonerar o Estado das funções sociais.

Deixemos os crimes contra o Estado democrático para outros textos, bem como a venda de ativos estratégicos onde avultaram empresas de vanguarda científica e tecnológica.

A TAP é uma obsessão ideológica de quem mentiu para explicar a venda inadiável. Para o bando da comissão liquidatária do País, não contam interesses estratégicos, o turismo que comprometem ou o valor simbólico.

Convém aqui dizer que os pilotos da TAP se comportam como aliados do Governo que aparentemente combatem. No início da Revolução exigiram a isenção de impostos, hoje não fazem greve contra a privatização, mas contra a impossibilidade de confiscarem em proveito próprio, em benefício restrito da casta, uma parcela da empresa, sem qualquer preocupação com a viabilidade da empresa e o futuro dos outros trabalhadores.

Parece que os partidos de esquerda temem afrontar greves injustas. Não se trata de uma greve de funcionários modestos, que reivindicam 2% ou 3%  de aumento salarial, mas de pilotos que pretendem locupletar-se com parte da venda numa dupla imoralidade, a exigência do que não é seu e a indiferença pela venda em que o Governo insiste.

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