Acordo pré-eleitoral CDS/PSD: Day after …
O acordo pré-eleitoral CDS/PP com o PSD ontem firmado link foi um 'fogacho' pré-eleitoral mas parte de falsos pressupostos.
Um deles é quem pediu, ou condicionou, em 2011, a intervenção externa perante uma difícil situação financeira que, tendo componentes internas, nasce de manobras especulativas do sistema onde assentam arraiais os ‘investidores’ (institucionais na sua maioria), travestidos como implacáveis e inomináveis ‘credores’.
Quando, em 2011, o largo espectro político-partidário paoquial adoptou a solução de proceder a uma ruptura política interna não mediu as consequências. Uns (a Esquerda) rejeitaram a austeridade pensando que existiriam outras soluções alternativas, outros (a Direita) embrulharam-se em promessas de ‘cortes nas gorduras’ do Estado, jurando poupar os cidadãos.
Ambos estes cenários revelaram-se absolutamente fantasiosos. E o custo desta ‘fantasia’ recaiu sobre os portugueses. Há, todavia, uma categórica afirmação que passados 4 anos não pode ser esquecida nem desvalorizada. Passos Coelho comprometeu-se a cumprir o programa da Troika (conhecido antes das eleições de 2011) e “ir mais além das metas acordadas” link. Esta terá sido uma das poucas intenções manifestadas que cumpriu.
De salientar que se tratou de um compromisso pós-eleitoral perante o Presidente da República. Este, por outro lado, viria a revelar-se um fiel companheiro governamental na aplicação de uma desastrosa politica austeritária. Agora suspira por um entendimento interpartidário. Vá lá entender-se a equivoca personagem.
O outro equívoco é o de que a governação conjunta durante os últimos 4 anos foi um sucesso linear, explícito e incontestável. Na realidade, a dívida não parou de crescer, o desemprego mantem-se a um nível intolerável, a pobreza cresceu exponencialmente e os apoios sociais caíram a pique.
Existem, de facto, indicadores macroeconómicos que melhoraram, mas como reconhece a própria maioria governamental não atingiram as pessoas. E em Setembro/Outubro são as pessoas que votam…
O FMI que recebeu antecipadamente o dinheiro emprestado também não votará. Na realidade, é difícil contornar esta iniquidade: uns recebem antecipadamente no decurso de uma crise ainda não debelada e num clima de indefinição futura e para os outros foi aventada a hipótese de pagamentos em suaves prestações anuais, condicionalmente, i. e., se a situação (orçamental, nacional e europeia) evoluir bem. Esta dualidade de critérios caracteriza bem a atitude deste Governo. É isto que estará em julgamento nas próximas legislativas.
O acordo tem, como é habitual nestes entendimentos, intenções ocultas. A primeira é meramente contabilística. A ida em coligação às eleições – com o método de Hondt – poderá beneficiar a 'frente eleitoral de Direita', embora descaracterize as opções (nuances) partidárias, face a um plano de tentar a todo o custo a permanência no poder. Não fica qualquer espaço para as habituais tiradas de ‘desapego ao poder’.
Outra vertente deste acordo pré-eleitoral é permitir o clássico 'sacudir a água do capote'. No dia seguinte às eleições os 2 dirigentes partidários subscritores do presente acordo apressar-se-ão a endossar ‘um’ ao ‘outro’ os resultados tentando cada um salvaguardar a sua posição partidária.
O primeiro acto ocorreu ontem (sem surpresas), segue-se o enredo eleitoral que não expurgou todas as possibilidades de correr mal e o terceiro acto vem depois e não oferece garantias de qualquer estabilidade.
Finalmente, existe como é habitual nestas situações a canibalização partidária. Tradicionalmente, o partido de maiores dimensões tende a canibalizar o mais pequeno, capitalizando as suas áreas de influência (partidária). Este é um desafio que os militantes do CDS não deixarão, ao longo da campanha, de ponderar. A ‘irrevogável’ avaliação ficará para depois.
Comentários