Há um prenúncio de morte... [*]


O abandono pelos EUA do Conselho de Direitos Humanos da ONU link é indissociável dos atropelos democráticos que varem a América sob a administração Trump. Verdade que o ‘enviesamento democrático’ neste terreno não começa com Trump, nem acabará com ele, será - como sabemos - uma consequência do sistema, isto é, das contradições do capitalismo.
 
Este Conselho que surge em 2006 como uma reformulação da anterior ‘Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos’ nasce apesar da oposição dos EUA (e vale a pena acrescentar de Israel).
 
Regressando aos tempos correntes esta acintosa atitude não pode ser desligada da campanha presidencial de Trump e das posições então manifestadas sobre o problema migratório. Trump anunciou a construção do muro com a fronteira do México mas, na realidade, está empenhado no cavar de uma trincheira com o Mundo civilizado.
 
Existem algumas coincidências nesta incompreensível posição de abandono de um fórum para a defesa dos Direitos Humanos. A primeira destas coincidências será a simultaneidade entre o abandono do Conselho e as intoleráveis medidas de ‘tolerância zero’ que deixaram o Mundo atónito aos fragmentar famílias migratórias retirando crianças dos pais. A imagem da capa da revista Time que anexamos a este texto explica muita coisa.
Mas a mais estranha coincidência será uma candidatura de última hora da Rússia ao Conselho de Direitos Humanos da ONU link.
 
Não é fácil deslindar a complexidade destas manobras político-diplomáticas. Conhecido é o facto de que a medida foi tomada pelos EUA como reação às repetidas denúncias da situação israelo-palestina. Dezenas de resoluções da ONU que Israel não respeitou, nem mostra qualquer indício de vir a respeitar, incomodam o lobby judeu na América e ditam atitudes políticas reativas como esta do abandono do Conselho de Direitos Humanos da ONU.
 
Os ‘massacres’ a decorrer na Palestina são para ocultar. A ocupação de território levada a efeito sob a capa dos ‘colonatos’ é para prosseguir. Neste momento, estão sequestrados cerca de 2 milhões de palestinos na Faixa de Gaza transformada numa prisão a céu aberto. O barulho deste genocídio é – no entender dos fiéis de Trump – para ser abafado. A quixotesca atitude da Administração Trump só veio ampliá-lo.
 
A retirada do Conselho de Direitos Humanos da ONU não vai resolver a situação interna norte-americana relativa aos fenómenos migratórios com que está confrontada e a ser cavalgada por uma onda conservadora, nacionalista, demagógica e populista, nem será capaz de ocultar o genocídio de um povo (palestino) a decorrer no Médio Oriente.
 
A marcha da História vai com certeza meter de quarentena estes aprendizes de feiticeiros ou, se quisermos, estes fautores da barbárie.
 
[*] – Letra de uma conhecida canção do grupo GNR.

Comentários

e-pá! disse…
Apostilha:

Jeff Sessions (Procurador-Geral dos EUA) resolveu 'justificar' a atitude (política) da Administração Trump, perante os movimentos migratórios do presente, com uma citação bíblica:
"Citaria o apostolo Paulo e o seu mandato claro e sábio, em Romanos 13, que diz para obedecer às leis do governo porque Deus as criou com o propósito da ordem...".
É verdadeiramente inconcebível esta argumentação e o recuo civilizacional que encerra. O poder exercido por 'delegação divina' morreu com a Paz de Vestefália. Há 370 anos!

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