Henrique Galvão – No 48.º aniversário da morte de um inimigo de estimação de Salazar
O 48.º aniversário da morte de alguém, por muito
ilustre que seja, não é data adequada à celebração de uma efeméride, mas é um excelente
pretexto para evocar episódios da luta contra a ditadura salazarista.
Henrique Galvão, ainda cadete, participou em dezembro
de 1917 na revolta que levou Sidónio Pais ao poder, aderiu ao golpe de 28 de
maio e foi um salazarista. Excelente organizador, foi administrador do concelho
de Montemor-o-Novo, inspetor da administração colonial, governador de Huila, Comissário
Geral da Exposição Colonial Portuguesa (Porto, 1934), deputado, diretor da
Emissora Nacional, responsável pela secção colonial da Exposição do Mundo
Português (1940).
Escritor, com vasta obra publicada, estava destinado a
ser um dos vultos do salazarismo, mas porque, como disse, “Ninguém conhece
melhor o amo que o seu criado de quarto”, opôs-se ao ditador no início da
década de 50, tornando-se um inimigo audacioso e protagonista de alguns dos
mais espetaculares e mediáticos golpes contra o regime.
Apoiante da candidatura oposicionista de Quintão
Meireles, autor de um relatório onde denunciava haver escravatura nas Colónias
Portuguesas, viria a ser demitido e preso na sequência da participação numa
intentona contra a ditadura.
Foi sob intensa vigilância da Pide que protagonizou a
fuga espetacular do Hospital de Santa Maria, onde se encontrava internado, ido
do Forte de Peniche, a cumprir a pena de 18 anos de prisão a que fora
condenado, e se refugiou na embaixada Argentina, de onde seguiu para a
Venezuela, em cujo exílio terá preparado o assalto ao Santa Maria.
Em 1961, sob os auspícios do Diretório Revolucionário Ibérico
de Libertação (DRIL), galaico-português, com o lendário comandante Jorge
Sottomayor, herói republicano da Guerra Civil espanhola, assaltou o paquete de
luxo Santa Maria, que navegava para Maiami com 612 passageiros, muitos
norte-americanos, e 350 tripulantes. Assumiu o comando do paquete, logo
denominado de Santa Liberdade, com a imprensa mundial surpreendida com o
audacioso e inédito assalto, até ter atracado no Brasil onde lhe foi concedido
asilo político.
Mais tarde, coorganizou o desvio de um avião da TAP com
Palma Inácio, outro herói da luta contra a ditadura, em que este lançou
panfletos assinados por Henrique Galvão, do avião que vinha de Casablanca.
Nascido em 4 de fevereiro de 1895, Henrique Galvão
morreria em S. Paulo, em 25 de junho de 1970, quatro anos antes de poder
assistir à manhã gloriosa do 25 de Abril.
Porque a história da liberdade se construiu com muitos
mártires, aqui fica hoje a breve recordação de um dos seus mais destacados
atores a quem devo momentos de enorme felicidade pelas setas que disparou ao
coração da ditadura.
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