Moçambique - 25 de setembro de 1964
No dia de hoje, há 54 anos, o comité central da Frelimo proclamou a insurreição geral e, nesse dia, abriu a terceira frente da luta pela libertação das colónias do império colonial português.
Do sofrimento dos militares portugueses (510.134), que saíram de Portugal para uma guerra inútil, injusta e criminosa, há vários testemunhos. Sobre os 7.481 que morreram nas três colónias, 1852 amputados e 220 paraplégicos, embora com feridas ainda vivas nos que sobreviveram, vai-se escrevendo e falando, por entre traumas que se vivem em silêncio e a síndrome de Estocolmo que leva muitas das vítimas a defender os carrascos que impuseram a guerra que nenhum dos lados merecia.
Do que não se fala é das vítimas do outro lado, dos seus medos e privações, da tragédia que foi acrescentada à inclemência de séculos de colonialismo.
Eu fui apenas 1 dos 129.468 militares enviados para Moçambique, quatro anos depois do início da guerra. Não gosto de falar disso, talvez porque a minha revolta é irrelevante perante as privações e perigos que outros camaradas padeceram.
Como não se fala do sofrimento de quem esteve do outro lado da barricada, deixo hoje uma denúncia de que só esta semana tive conhecimento, feita de forma não intencional, por um camarada que ali* chegou um ano depois e conheci nos meses que pertenceu ao mesmo batalhão.
[Fuzilamento em Massangulo – outubro de 1966. A tropa portuguesa cercou a aldeia, capturou oito homens e fuzilou-os à frente da população, acusados de pertencerem à Frelimo. A seguir regaram-nos com gasolina e chegaram-lhes o fogo. Depois, não permitiam que ninguém se aproximasse para que as feras pudessem comer os restos. § Por incrível que pareça, um deles sobreviveu às balas e ao fogo, apesar de bastante queimado. O padre avisou-me logo: «Sr. Bispo, vamos ter problemas se descobrem isto». Falei com o capitão (…)]
Catur era a sede de batalhão da companhia a que pertencia o autor do livro «Companhia de Caçadores 2418 – Na guerra em Moçambique 1968/70), Fernando Carvalho. Massangulo tinha uma missão onde dei algumas aulas no tempo em que fui militar no Catur. Nunca me falaram deste crime que o bispo Eurico Dias Nogueira denunciou (e que o autor, meu camarada, transcreve), mas fê-lo depois do 25 de Abril, talvez quando o cónego Melo era operacional do cabido da sua diocese, em Braga.
(Por pudor, não identifico a Companhia assassina que, aliás, já não conheci). Mas vem no livro referido, em rodapé da página 48).
* Apostila – Embarquei para Moçambique, com destino a Catur, em 11 de outubro de 1967, a bordo Vera Cruz. Regressei em dezembro de 1969. Vivo.
Do sofrimento dos militares portugueses (510.134), que saíram de Portugal para uma guerra inútil, injusta e criminosa, há vários testemunhos. Sobre os 7.481 que morreram nas três colónias, 1852 amputados e 220 paraplégicos, embora com feridas ainda vivas nos que sobreviveram, vai-se escrevendo e falando, por entre traumas que se vivem em silêncio e a síndrome de Estocolmo que leva muitas das vítimas a defender os carrascos que impuseram a guerra que nenhum dos lados merecia.
Do que não se fala é das vítimas do outro lado, dos seus medos e privações, da tragédia que foi acrescentada à inclemência de séculos de colonialismo.
Eu fui apenas 1 dos 129.468 militares enviados para Moçambique, quatro anos depois do início da guerra. Não gosto de falar disso, talvez porque a minha revolta é irrelevante perante as privações e perigos que outros camaradas padeceram.
Como não se fala do sofrimento de quem esteve do outro lado da barricada, deixo hoje uma denúncia de que só esta semana tive conhecimento, feita de forma não intencional, por um camarada que ali* chegou um ano depois e conheci nos meses que pertenceu ao mesmo batalhão.
[Fuzilamento em Massangulo – outubro de 1966. A tropa portuguesa cercou a aldeia, capturou oito homens e fuzilou-os à frente da população, acusados de pertencerem à Frelimo. A seguir regaram-nos com gasolina e chegaram-lhes o fogo. Depois, não permitiam que ninguém se aproximasse para que as feras pudessem comer os restos. § Por incrível que pareça, um deles sobreviveu às balas e ao fogo, apesar de bastante queimado. O padre avisou-me logo: «Sr. Bispo, vamos ter problemas se descobrem isto». Falei com o capitão (…)]
Catur era a sede de batalhão da companhia a que pertencia o autor do livro «Companhia de Caçadores 2418 – Na guerra em Moçambique 1968/70), Fernando Carvalho. Massangulo tinha uma missão onde dei algumas aulas no tempo em que fui militar no Catur. Nunca me falaram deste crime que o bispo Eurico Dias Nogueira denunciou (e que o autor, meu camarada, transcreve), mas fê-lo depois do 25 de Abril, talvez quando o cónego Melo era operacional do cabido da sua diocese, em Braga.
(Por pudor, não identifico a Companhia assassina que, aliás, já não conheci). Mas vem no livro referido, em rodapé da página 48).
* Apostila – Embarquei para Moçambique, com destino a Catur, em 11 de outubro de 1967, a bordo Vera Cruz. Regressei em dezembro de 1969. Vivo.
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