Os 10 anos da crise que mantém o mundo em sobressalto

Há dez anos, no dia de hoje, a falência do banco Lehman Brothers derrubou de vez a utopia da prosperidade contínua, do enriquecimento imparável e da bondade de um sistema financeiro alicerçado na desregulação dos mercados.

As ondas de choque fizeram sentir-se a nível global, e só os néscios atribuem aos governos de turno dos países mais vulneráveis a responsabilidade da tragédia. A versão moderna da grande depressão de 1929 só não precipitou uma catástrofe ainda maior, porque os bancos centrais, embora tardiamente, criaram uma falsa normalidade com a emissão de moeda e a garantia de não deixar falir o sistema bancário.

Foram dinheiros públicos que salvaram o que restava do sistema financeiro privado, os contribuintes dos países menos culpados a sofrer os efeitos, e a popução dos países mais pobres a suportar dificuldades acrescidas.

Aí estava mais uma crise cíclica do capitalismo, que não foi ainda a última, a desmentir arautos da felicidade perpétua e a dar razão ao marxismo que muitos confundem com a perversão que atingiu regimes que dele se reclamavam.

A hecatombe moral do capitalismo foi consumada. A rede vascular da circulação monetária foi perturbada. A desconfiança no sistema não mais foi esquecida e o mundo, perplexo, entre a implosão do coletivismo e a derrocada do liberalismo, deixou os povos em estado de estupor, à espera de um novo paradigma. Só o estímulo fiscal e injeções fortes de dinheiros públicos na banca, em todo o mundo, evitou um desastre maior e imparável.

É impossível a um não iniciado nos mistérios exotéricos da economia prever o futuro, mas a única previsão ao alcance de um leigo é a falta de futuro para os caminhos que provaram já a sua ineficácia e se mantêm sem propostas alternativas. Não sei se os economistas têm soluções.

É desesperante assistir ao que nos afeta e não podermos nem sabermos intervir.

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