PGR – um não assunto convertido em arma política

Não interessa que o exótico sindicato mande no Ministério Público e que a arquitetura desta magistratura tenha sido imposta por um excelente jurista e hábil político, Cunha Rodrigues, que ameaçava perpetuar-se no cargo.

Não interessa que o bloco central se tenha unido para evitar que o PGR se eternizasse quando o sindicato ainda não tinha a força e a virulência que o tempo e a ambição política dos seus dirigentes haviam de conquistar.

Não interessa que o atual PR se tenha empenhado para que o/a titular da PGR cumprisse um só mandato e que o alargamento para seis anos, embora sem impedir a renomeação, tornasse o mandato único uma prática sem exceção.

Não interessa a esta direita que a nomeação seja da responsabilidade do Governo em funções e a aceitação dependente do PR, para colocar sob suspeita o próximo titular.

Todos os avençados da direita, indiferentes à preservação da dignidade do cargo, se lançaram na campanha de o instrumentalizar, na guerrilha contra o governo cujos apoios parlamentares e sucesso político os faz espumar de raiva.

Desde o enfurecido Ricardo Costa ao comentador/vidente Marques Mendes, que ora é o alter ego do PR ora se transforma no paquete de uma fação do PSD, todos os incendiários da direita fazem da inexplicável abertura de um precedente, a anómala recondução de Joana Marques Vidal, o barómetro da saúde das instituições democráticas.

Todos sabem qual é a opinião da própria, manifestada, numa entrevista ao boletim da Ordem dos Advogados, em 2013, dizendo que concordava com o facto de o mandato ser de seis anos, não renovável, opinião manifestada também numa conferência realizada em Cuba. Conhecem, aliás, a sua argumentação: “A passagem dos anos retira-nos a capacidade de distanciamento e de autocrítica relativamente à ação que vamos desenvolvendo”. “Por alguma razão, o mandato do procurador-geral da República é de seis anos, não renovável. E bem, na minha perspetiva”.

Marques Mendes, que sabe tudo isto e tem da ética uma ideia aproximada, afirmou num dos recados encomendados: “Se (Joana Marques Vidal) não for reconduzida, cheira a esturro”.

Há na opinião publicada uma tal hegemonia dos que chafurdam nos interesses e transformam em pântano a política, que impede desmascará-los.
Não podendo a oposição ser governo, quer pelo menos conservar o poder. E, se o perder, que o Governo fique sob suspeita, para mais depressa ser afastado. A grandeza cívica desta direita tem em Marques Mendes a sua bitola e em Cavaco a referência democrática.

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