Notas Soltas – agosto/2018
Demografia – Em 1
de agosto, a população mundial tinha gastado os recursos naturais de todo o ano,
apesar de muitos terem morrido à fome. Desde esse dia são os recursos de
gerações vindouras que sustentam os que têm acesso à riqueza.
Coreia do Norte –
A reunião de Trump e Kim Jong-un permitiu a Trump cantar vitória e a ambos
tecer elogios mútuos. Quando o circo acabou, o primeiro voltou à sua agenda desastrosa
e o segundo prosseguiu o programa nuclear, enquanto o povo morre de fome.
Espanha – A lei
da Memória Histórica, que impõe a remoção da toponímia dos nomes simbólicos da
ditadura, tem a oposição de juízes, bispos e militares na reserva. Franco, o
maior genocida ibérico de sempre, ainda condiciona a democracia e ultraja as vítimas.
Vaticano – O Papa
Francisco alterou o parágrafo do catecismo da Igreja católica sobre a Pena de
morte, considerando-a “inadmissível”. A rutura com a doutrina tradicional e o estímulo
à abolição incitou a rebelião do clero retrógrado, que esperava um pretexto.
Argentina – O
Senado, fortemente beato e reacionário, recusou a lei da IVG votada no
Parlamento. As opções confessionais contrariam o direito de decisão das mulheres
sobre o seu próprio corpo, contaminando toda a América latina.
Brexit – A incapacidade
da senhora May para resolver a obstinada tarefa, que impediu a reversão da
decisão, irrefletida e lesiva dos interesses nacionais, é prejudicial para a
UE, e será o fim do Reino Unido como nação. May ficará na História pelas piores
razões.
Vigo – O acidente
no passadiço, que deixou 312 pessoas feridas, 9 com gravidade, é um alerta para
os perigos que espreitam, em qualquer país e lugar, e uma advertência para a
inadiável monitorização de infraestruturas que põem em risco os cidadãos.
Aquecimento global
– Quando a Sibéria atingiu 40º e sofreu incêndios devastadores, a Escandinávia
derreteu e a floresta foi devorada por chamas, o trágico incêndio de Mati, na
Grécia, ou o de Monchique, em Portugal, são apenas a trágica antevisão do futuro.
Génova – O viaduto
Morandi, considerado uma obra-prima da engenharia italiana, não resistiu ao
tempo e ao intenso tráfego rodoviário. O colapso arrastou na queda dezenas de
veículos e fez da obra de arte uma armadilha fatal para numerosas vítimas.
Brasil – Um exótico
fascista tropical, Jair Bolsonaro, homofóbico, misógino, xenófobo e mitómano
pode tornar-se o próximo presidente brasileiro. A politização da Justiça e a
conspiração que derrubou Dilma abriram as portas a um fascista puro e duro.
Igreja católica –
O maior escândalo sexual de sempre, o abuso de mais de mil crianças por mais de
300 padres da Pensilvânia, EUA, em sete décadas, com a cumplicidade de bispos e,
desde 1963, conhecido do Vaticano, é a desgraça da Igreja e a ruína da fé.
Budismo –
Xuecheng, abade do famoso templo de Longquan, demitiu-se da presidência da
Associação Budista da China, por assédio e violação de monjas. A lascívia derrubou
o principal líder espiritual chinês, que atingira o cargo antes dos 50 anos, em
2015.
PR – Que Marcelo
reze o terço todos os dias e ache que “Um sítio onde é sensacional rezar o
terço é a nadar no mar”, é uma opção pessoal, mas que a explicite e refira que
a sua recandidatura “está nas mãos de Deus”, trai a laicidade a que o PR é
obrigado.
Aliança – Santana
Lopes não pôde voltar a liderar o PSD e lançou-se na aventura de um novo partido,
populista, liberal e nacionalista. Constitui uma ameaça para o CDS, uma
esperança para a extrema-direita e um dilema para a franja mais à direita do
PSD.
Venezuela – O
governo de Maduro é o fracasso que provoca o êxodo massivo na fuga à miséria. Mais
de dois milhões de cidadãos desesperados, rejeitados nos países vizinhos, vivem
uma dramática tragédia humanitária, em busca de paz e da sobrevivência.
EUA – A potência hegemónica
elegeu PR uma criatura vulgar e com os piores defeitos, racista, xenófobo e
mitómano. A permanência no cargo é um desastre para o país e uma tragédia para
o mundo.
Jornal do Fundão
– A compra à Global Media, proprietária do DN e da TSF, por um grupo de jornalistas
e docentes universitários, pode devolver o semanário à matriz com que o seu
fundador, António Paulouro, fez dele uma referência nacional.
Vale dos Caídos –
A exumação de Franco tardou quatro décadas. A remoção do altar fascista, que simbolizava
a declaração de vitória da Falange, é o triunfo da democracia sobre a ditadura
e a catarse do terror que infundia a glorificação do genocida.
Itália – A chegada
ao poder de Matteo Salvini é mais uma acha na fogueira em que arde a UE, com os
italianos convictos de que a falsa soberania, anunciada pelo fascista, evita ao
país o risco da desintegração, o empobrecimento e a irrelevância política.
CDS – A comunicação
social neoliberal, à espera de nova chefia no PSD, hesita entre o CDS e o
promissor Aliança, e dá à Dr.ª Cristas e a Nuno Melo o protagonismo que, pela
dimensão eleitoral, cabe ao PSD, deixando o palco mediático aos dois políticos.
John McCain – O
ex-candidato republicano dos EUA contra Barack Obama, não é um herói mundial,
pela guerra em que participou, é um herói dos EUA, de rara dignidade e coragem.
Com a expressa rejeição de Trump no seu funeral, deu um exemplo universal.
Birmânia – A limpeza
étnica de rohingyas, minoria muçulmana pobre, levou a Missão de Inquérito da ONU
a pedir à justiça internacional que investigue e julgue o chefe do Exército e
outros oficiais por ‘genocídio e crimes contra a humanidade’. Intolerável!
Elisa Ferreira –
A vice-presidente do Banco de Portugal, que a Bloomberg considerava forte
candidata à presidência do Mecanismo Único de Supervisão dos bancos europeus,
não ~se candidatou. Ainda bem, Portugal precisa de uma mulher competente em
Belém.
Comentários
John McCain – O ex-candidato republicano dos EUA contra Barack Obama, não é um herói mundial, pela guerra em que participou, é um herói dos EUA, de rara dignidade e coragem. Com a expressa rejeição de Trump no seu funeral, deu um exemplo universal.
Contra
A primeira impostura com que nos deparamos, é a de um John McCain, herói de uma guerra, em que a América saiu de joelhos, depois de ter cometido crimes que os condenados em Nuremberga invejariam.
McCain foi o maior impulsionador da destruição do Iraque, e da intervenção na Líbia, sem esquecer o Kosovo ou o apoio dos Estados-Unidos na agressão ao Iémen. No conflito da Geórgia e a Rússia, gritava como louco “somos todos georgianos”. Incitou a uma intervenção direta na Síria e “agradeceu a Deus pela apoio da Arábia Saudita na agressão ainda curso”. O seu ódio ao Irão é célebre: “É necessário bombardear, bombardear, bombardear, bombardear o Irão”.
No formato em que escrevo para o mensário da vila de Almeida não posso alongar-me em referências como as suas, com as quais, no essencial, concordo. Apenas quis destacar a importância mundial do seu desprezo por Trump.
Obrigado pelo comentário.