Há 27 anos

Há 27 anos

Um primeiro-ministro amoral, de rudimentar cultura e sofrível formação ética, «tendo em consideração os altos e assinalados serviços prestados à Pátria», resolveu «conceder o direito à pensão por serviços excecionais e relevantes prestados ao País» a membros de uma associação de malfeitores que ao longo dos anos assassinou, torturou, degredou, prendeu e humilhou o povo português.

Quando o salazarista, que tudo deveu à democracia, ousou afrontar a memória dos órfãos, o sofrimento dos sobreviventes, a tragédia das famílias destroçadas, as vítimas da guerra colonial e a consciência cívica de um país que viveu a mais longa ditadura europeia, era o autocrata que nunca perdoou Abril, que jamais condenou a guerra ou  se envergonhou da censura, das perseguições, da violação da correspondência e do poder arbitrário de que a sinistra polícia foi o instrumento.

O PM que mandou votar Portugal, com a África do Sul e os EUA, contra a libertação incondicional de Nelson Mandela, e o PR presente na inauguração da Feira do Livro de Bogotá (FILBO), da qual Portugal foi, nessa 26ª edição, convidado de honra, e omitiu (17-4-1913) o nome do único prémio Nobel português, José Saramago, foi o salazarista ressentido e não o representante do país livre que os militares de Abril nos legaram.

Hoje, 27 anos depois da ofensa gratuita, iníqua e insuportável para todos os que lutaram contra a ditadura, sem lhe citar o nome, deixo aqui a amarga recordação de um ato que o envergonha no desejo veemente  de que a democracia sobreviva a quem, beneficiando dela, não a honrou.

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