TRUMP / KIM JONG-UN: os indiciários (incendiários?) sinais vindos de Hanói…


Os últimos desenvolvimentos da política internacional mostram uma fase de cansaço e esgotamento dos modelos de intervenção que até agora têm sido utilizados nas batalhas diplomáticas.
O recente fracasso das conversações entre Donald Trump e kim Jong-un link é um sinal evidente do esgotamento da metodologia e estratégias utilizadas.
 
Muitas das conversações são estritas negociações do tipo: dás-me isto e levas aquilo. Ou pior: dás-me isto e eu prometo dar-te aquilo. Nem sempre o resultado é linear já que encontrar o terreno de equilíbrios onde as conclusões sejam favoráveis para ambos os intervenientes é uma tarefa complexa e joga com múltiplos fatores, muitas vezes não representados nos encontros bilaterais.
 
A Administração Trump não é propriamente um exemplo de criatividade na política externa. Mas, muito embora, atuando atabalhoadamente – uma das características do ‘trumpismo’ - o modelo de intervenção externa dos EUA mantem uma identidade de processos e métodos nos seus aspetos essenciais. Ficamos com a sensação que as decisões de política externa são decididas fora do 'inner circle' da White House e o que muda é o protagonista (que pode ser mais ou menos credível).
 
E a consequente analogia entre a presente situação da Coreia do norte e a Líbia de Kadhafi quando, em 2003, aceitou suspender o programa nuclear em curso é por demais evidente para não ensombrar a cimeira entre Trump e Kim Jong-un e a metodologia proposta pelo presidente dos EUA.
Por outro lado a ‘intervenção americana’ na Líbia, sob o diáfano manto da NATO, não é um caso isolado e existem outras variantes e antecedentes interventivos como sejam, por exemplo, o caso da ex-Jugoslávia, do Iraque, da Síria, entre outros. A técnica de primeiro desarmar e depois tratar do assunto é uma tosca réplica do velho Far-West americano. Todos conhecemos o destino do cowboy, uma vez desarmado.
 
Uma completa descredibilização do sistema de equilíbrios internacionais saídos do fim da II Guerra Mundial onde os EUA têm particulares responsabilidades, tem como corolário o desencadear de uma corrida armamentista com consequências inimagináveis na capacidade geradora de conflitos bem como no apocalíptico âmbito de destruição. 
A cada vez mais notória olímpica indiferença dos EUA em relação à ONU é uma das expressões desta rutura dialogante e a sua paulatina substituição por uma 'manu militari', disfarçada de tudo e mais alguma coisa, de que foram exemplos as recentes ‘primaveras árabes’ que tiveram o condão de desestabilizar os frágeis equilíbrios locais e regionais, gerando um clima de desconfianças e o levantar de barreiras, muito dificilmente ultrapassáveis.
 
Não admira que paralelamente à malograda cimeira de Hanói tenha ocorrido um outro sinal que passou despercebido.
A Ucrânia - onde o envolvimento americano com a cumplicidade da UE criou uma perigosa situação de impasse - surgiu a solicitar a retirada do direito de veto da Rússia no CS da ONU link. O próximo passo – a dar valor a este ‘sinal’ carreado pelo presidente ucraniano mas provavelmente com outra origem - seria o completo estilhaçar da ONU. Reconheça-se que dado este ‘salto no escuro’ tudo o que se segue (na estratégia negocial) ficaria mais fácil e expedito. Todavia, simultaneamente, mais perigoso.
 
Muitos dos desenvolvimentos desta reiterada estratégia da política internacional são, por exemplo, a chave da compreensão do que se está a passar na Venezuela. E, para além disso, exprimem a exata noção da perigosa situação que o Mundo vive. A cimeira de Hanói para além de evidenciar a caducidade dos métodos empregues põe a nu a instabilidade e a incerteza em relação ao futuro do Mundo e, mais grave, da Humanidade.
 
O ‘sinal’ está dado. Resta saber como interpretá-lo, como tirar ilações e, mais importante, como adotar uma 'resposta comum' que, decididamente, favoreça a Paz.

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