CDS – A renúncia de Adolfo Mesquita Nunes

Adolfo Mesquita Nunes, depois da notícia da aceitação do lugar de Administrador não executivo na Galp, anunciou a sua demissão de vice-presidente do CDS. Correu mal a notícia da nomeação, anterior a renúncia, quando, politicamente, convinha o contrário.

O dirigente do CDS pode ter feito uma carreira beneficiado pela visibilidade política, mas tinha a formação que lhe permitiu trocar a política por cargos mais rendosos, que aguardam pessoas de direita, de preferência qualificadas. Mesquita Nunes não é a Celeste Cardona ou o Armando Vara da CGD, é um quadro político preparado para a advocacia e a gestão empresarial.

Era a face moderada do CDS, o conservador prudente, sem a estridência da Dr.ª Cristas, um homem delicado, e a exceção no conservadorismo beato do partido, que defendeu o “Sim” no referendo à despenalização do aborto, de 11 de fevereiro de 2007, e assumiu a sua homossexualidade sem complexos.

Era o único liberal nos costumes no partido de que era simultaneamente um ornamento liberal e a cabeça pensante que não insultava adversários. Agora ficam os neoliberais da economia e reacionários nos costumes sem a cobertura que este conservador lhes dava.

O CDS da D. Cristas e Nuno Melo fica mais perigoso e disponível para se coligar com o fascista André Ventura, escolha de Passos Coelho para liderar a lista autárquica do PSD à Câmara de Loures, que não conseguindo legalizar o seu partido – Chega –, por falta de assinaturas válidas, conseguiu que o PPM e outra excrescência legalizada o aceitassem como cabeça da “coligação Chega” às eleições europeias.

O neofascismo, puro e duro, começa a ter rostos em Portugal e, à semelhança de outros países, a contar com o patrocínio dos enviados de Trump e financiamentos necessários.

Ao CDS não faltará outro Adolfo, menos recomendável, mais adequado à dupla Cristas e Nuno Melo. O regresso de Manuel Monteiro pode ser o Adolfo do partido que o PPE já expulsou uma vez e que só as necessidades da direita, a pedido de Durão Barroso, devolveram ao convívio dos partidos conservadores e democrata-cristãos europeus que ontem, na Hungria, suspenderam o partido Fidesz, de Viktor Orbán, no poder desde 2010, por tempo indefinido.

Enquanto não respeitar os valores e princípios democráticos.

Ponte Europa / Sorumbático

Comentários

e-pá! disse…
Em primeiro lugar, é salutar a atitude de Adolfo Mesquita Nunes ao abandonar o cargo diretivo que desempenhava no CDS para passar a ocupar uma posição dirigente numa grande empresa na área energética, isto é, estratégica.

Vamos ver, no futuro, em que medida esta é uma posição meramente formal ou , ao contrário, deontologicamente efetiva.

Mas, este comportamento, tem outras ilações como o post, sibilinamente, levanta. Na realidade, estas movimentações inserem-se na reorganização da Direita nacional (nacionalista) em curso e refletem a tendência recente para consolidar um imparável desvio para terrenos extremistas um pouco mimetizando o que sucede por essa Europa fora.

De facto, o surgimento de novas expressões no campo da Direita, como a 'Aliança' de Santana Lopes e o 'Chega' de André Ventura, demonstram isso mesmo. É de supor que depois da presente 'balcanização' da Direita surja a sua federação como instrumento para 'assaltar' o poder. Nada de novo em termos estratégicos.

A pequena nota dissonante é a espúria aliança do saudosista e anacrónico partido PPM que sempre navegou em águas conservadoras com o 'Chega' o que prefigura o definitivo haraquíri da desacreditada 'causa monárquica'.
Uma atitude que pede meças ao vero ditador e pseudo regenerador João Franco e que, mais de cem anos após, vem confirmar a 'imperiosidade política' de celebrar a queda da monarquia e proclamar a justeza da Revolução Republicana de 1910.

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