Notas Soltas – março/2019
Justiça – O
desembargador Neto de Moura, com acórdãos iniquamente fundamentados, machista e
misógino, tendo da mulher a visão islâmica, instigou a revolta que merece quem
respeita mais o Levítico do que a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Caxemira – Os
países desenhados nos gabinetes, a régua e esquadro, sem respeito pela história
e cultura dos povos colonizados, redundaram na tragédia que se vive em largos
espaços do ex-império britânico. Aqui, os conflitos envolvem duas potências
nucleares.
Venezuela – Condeno
o regime e o moribundo governo, mas Maduro surpreendeu, no regresso do
autoproclamado presidente interino Guaidó, com a multidão a aplaudi-lo, fazendo
pensar no que lhe sucederia no regime chileno de Pinochet.
Trump – O PR dos
EUA não é apenas um perigo para o mundo, é uma fonte de humor (negro). Quando
um tornado deixou parte dos habitantes do Alabama, sem luz, água e internet, enviou-lhes
palavras de solidariedade, através do Twitter.
Coreia do Norte –
Depois do acordo falhado entre Trump e Kim Jong-un, no qual só o primeiro
acreditava, Kim reforçou o avanço nuclear na perigosa e imprevisível escalada
que o descrédito e desnorte do PR americano facilitam ao sinistro ditador.
GES/BES – A
resolução do BES, Banco Mau e Novo Banco (péssimo) foi uma decisão inédita do governo
e BP. Fez um buraco de mais de 9 mil milhões de euros e, logo após a ‘resolução’,
ainda fugiram do BES mais de três mil milhões. Quem foi cúmplice?
ONU – Além das
posições equilibradas perante os conflitos geoestratégicos, destaca-se pela consciência
dos riscos do aquecimento global e constantes apelos à necessidade de
alterações drásticas no comportamento dos países face à tragédia que se
avizinha.
CDS – A
autoproclamada líder da Oposição e candidata a PM, no permanente combate ao
PSD, não se dá conta da pequenez do partido e dos seus quadros, substituindo
pelo ruído a incapacidade de se afirmar como líder credível dentro e fora do CDS.
Igreja católica –
A pena de 6 anos de prisão, ao cardeal australiano George Pell, ex-número 3 do
Vaticano, por crimes de pedofilia de há mais de 20 anos, foi a justiça tardia de
atos que envergonham uma Igreja que exalta a castidade e exige o celibato ao
clero.
Argélia – A
revolta contra o 5.º mandato do Buteflika, com o Islão desacreditado e sem
líderes, mas com implantação e apoio internacional, traz a sombra de primaveras árabes e do seu círculo
vicioso, revolta popular, recuperação islamita, guerra civil e refugiados.
Itália – A juíza Silvia
Capanini reduziu a pena de prisão de 30 para 16 anos ao marido que apunhalou a
mulher 24 vezes, por ter atuado “por um misto de ira e desespero, profunda deceção
e ressentimento". A vítima tinha um amante e a juíza culpou a morta.
Polónia – A
Conferência Episcopal registou mais de 380 casos de abusos sexuais a menores
desde 1990. Em 11,5% dos casos impôs penitências, transferência do sacerdote
para outra paróquia ou terapia psicológica, como medidas. Santa hipocrisia.
Nova Zelândia – O
fascismo não defende ideias, mata pessoas. Cerca de meia centena de mortos,
muçulmanos, como podiam ser cristãos ou budistas, resultou da demência fascista
de um celerado acirrado pelo ódio racista e ensandecido pela xenofobia.
Brasil – O Futuro da Lava-Jato está em risco, por
decisão do Supremo Tribunal. Afinal, não era o combate à corrupção que motivava
o sistema judicial brasileiro e o juiz Sérgio Moro, apoiante de Bolsonaro, era
a destruição do PT e o ódio a Lula que os animava.
Michel Temer – O coautor
do golpe contra Dilma parecia descartado pelo novo regime ao ser detido, mas
logo foi solto. O sistema judiciário e os seus métodos são suspeitos, e Temer,
apesar do largo cadastro, acabou recompensado pelo apoio ao golpe de Estado.
Moçambique – A
agravar a pobreza, a fúria destruidora do ciclone Idai, classificado pela ONU
como o “pior desastre climático de sempre” no hemisfério sul, atingiu 1,7
milhões de pessoas e deixou um rasto enorme de mortes, miséria, doenças e
desespero.
Hungria – O partido
Fidesz, de Viktor Orbán, no poder desde 2010, ficou suspenso do Partido Popular
Europeu, por tempo indefinido. O PPE regressou à matriz dos partidos
conservadores do pós-guerra, não aceitando afrontas aos direitos humanos.
Espanha – O
cadáver de Franco é o esqueleto incómodo e a afronta à democracia, com juízes,
Igreja e partidos da direita, a tentarem perpetuar o Vale dos Caídos como altar
do fascismo, em homenagem ao ditador e humilhação às vítimas.
Turquia –Erdogan,
ditador islâmico protegido pelo Ocidente, usa o ataque assassino de um fascista
à mesquita da Nova Zelândia, contra o alegado “terrorismo cristão”. A UE cala e
consente, ignorando o risco que o genocida dos curdos representa para si.
Água – O bem mais
precioso e cada vez mais escasso, exige drásticas e rápidas medidas de
poupança. Em Espanha, será preciso viver com uma redução de 40%. Em Portugal, onde
não se conhecem previsões, é de esperar algo semelhante.
Estado Islâmico –
Foi anunciada a queda do seu último bastião na Síria, mas, perdido o território
e a organização, ao símbolo maior do terrorismo islâmico, tal como à Hidra de
Lerna, renascerá outra cabeça de víbora num qualquer pântano de África ou da
Europa.
Brexit – Tudo o
que podia correr mal, correu efetivamente mal e da pior maneira (lei de
Murphy), mas não se previa que a obstinada Senhora May pudesse acabar, sem
partido, sem Governo, sem deputados e sem solução, com um Brexit selvagem
possível.
Transportes públicos
– Os novos passes, para as áreas metropolitanas de Lisboa, Porto e mais 21
comunidades intermunicipais, a preços módicos, é a decisão de maior alcance
social e a mais benéfica para o ambiente alguma vez tomada na política dos
transportes.
Comentários
Apesar da incrível especulação e tentativa de aproveitamento que fez à volta do atentado terrorista da Nova Zelândia, Erdogan viria a sofrer uma importante derrota nas eleições municipais de domingo.
A Turquia está confrontada com o futuro. Duas opções e um remoque:
1.) O endurecimento da 'islamização' do País com a destruição completa dos resquícios democráticos, legados por Ataturk, que ainda conseguem sobreviver;
2.) A erosão do poder e da autoridade de Erdogan na senda de uma re-democratização e regresso à laicidade, sob a batuta do Partido Republicano do Povo.
Remoque: Pelo meio, fica 'entalada' - mais vez - a 'questão curda'.