Notas Soltas – julho/2019
Vaticano – O núncio apostólico em Espanha, na
entrevista concedida dois dias antes da jubilação, defendeu a permanência de
Franco no Vale dos Caídos. O Governo protestou pelo teor fascista e ingerência
nos assuntos internos. O Vaticano desautorizou o núncio.
Hong Kong – A população mostrou determinação e coragem
impensáveis na defesa da democracia, mas a lembrança de Tiananmen está viva e a
reação das ditaduras é sempre a incógnita sobre a vida de quem ousa enfrentá-las.
Resta a solidariedade internacional.
Índia – Rahul Gandhi demitiu-se da presidência do
Congresso do partido fundador da democracia, na sequência da derrota das
últimas eleições, pondo termo à liderança face ao triunfo avassalador da direita
radical hinduísta do PM, Narendra Modi.
Itália – Carola Rackete, com 40 pessoas resgatadas
do Mediterrâneo, e débil estado de saúde, atracou em Lampedusa. Presa, ela e o
seu barco humanitário, foi absolvida por uma juíza que resgatou a honra do País
e atraiu o ódio do governante fascista, Salvini.
UNESCO – A lista de Património Mundial passou a incluir
o Santuário do Bom Jesus e o Palácio de Mafra. A distinção do património
nacional cria-nos a obrigação acrescida de preservar as joias arquitetónicas e
paisagísticas para as gerações vindouras.
Irão – O boicote de que é vítima e a quebra
unilateral do acordo pelos EUA, apesar de a UE o respeitar, levou o País a uma
perigosa retaliação, enriquecendo urânio a um nível proibido pelo acordo
nuclear, concluído em 2015. A UE vê o perigo, mas é impotente.
Cavaco Silva – Quem o estima, deplora a sua perda de
memória. “Nunca fui amigo de Ricardo de Salgado” – disse –, esquecido do jantar
dos 4 casais na vivenda onde, com Marcelo, Durão Barroso e esposas combinou a
primeira candidatura vitoriosa a PR.
Grécia – O maior colapso económico da História
moderna grega aconteceu com a Nova Democracia, que agora voltou ao poder. Não haverá
mudança de rumo substancial, dada a trajetória do Syrisa. Houve alternância,
sem alternativa, e regresso à herança dinástica.
Aquecimento global – Chistos Stylianides, comissário para a
Ajuda Humanitária, lamentou ter falhado a ajuda da UE no combate aos incêndios
de 2017 em Portugal e revelou que a tragédia esteve na génese da criação do
Sistema Europeu de Proteção Civil (rescUE).
Brexit – Três anos depois de os britânicos decidirem
por exígua maioria a saída do RU da UE, o líder trabalhista Jeremy Corbyn
reclamou segundo referendo e anunciou que fará campanha a favor da permanência.
A pirueta, agora inútil, foi mera tática eleitoral.
Fátima Bonifácio – Jornalista e docente, desconhecida do
grande público, celebrizou-se pelo incoerente e execrável artigo, racista e
xenófobo, publicado no Público. Pior do que a sua opinião foi o eco nas almas
gémeas, a destilarem ódio racista nas redes sociais.
Brasil – A nomeação do filho para embaixador dos EUA,
apesar de saber falar inglês e, como o próprio afirmou, “Já fritei hambúrgueres
lá”, revela o nepotismo e leviandade de Bolsonaro. Os membros do seu governo,
se tivessem decoro, demitiam-se.
Turquia – Sistema de defesa russo chegou à Turquia.
O Governo de Erdogan começou a instalar o S-400, num desafio à Nato cujo maior
exército e o segundo mais poderoso fora dos EUA é o turco. Mais um risco global,
com perigo agravado para a Europa.
José Berardo – O empresário, recuperou o “s” e o acento
agudo do nome, perdidos no Apartheid. Se perder a arrogância e, sobretudo, o
património, para ressarcir os bancos dos rombos que ajudou a provocar, pode
manter as comendas!
Eutanásia – Com o marido a ser julgado pelo delito de
cooperação no suicídio da mulher, com esclerose múltipla e dores lancinantes, o
cardeal de Madrid defendeu que o ‘dono da vida’ é só Deus. Devia tê-lo feito quando
Franco fuzilava quem desejava viver.
Deutsche Bank – Só a economia alemã podia ocultar a
falência do cancro que arrastaria todo o sistema bancário europeu. Vai agora
ser reestruturado. A luta partidária iludiu a crise mundial do capitalismo de
2008. Não foi ainda a última.
Lula da Silva – A denúncia de uma das testemunhas-chave de
um dos processos contra o ex-PR, ao ter admitido que construiu um relatório
incriminatório sob coação (Público, 17-7, pg. 6), indicia que o lugar do juiz e
o do preso estão manifestamente invertidos.
Reino Unido – Boris Johnson, provado mentiroso, narcisista
e manipulador, com longo currículo de comentários racistas, homófobos e
machistas foi o preferido dos militantes do seu partido. A versão britânica de
Trump será o decisor do Brexit.
Boris Johnson – Tudo o que podia correr mal ao RU, e à UE,
correu efetivamente mal e da pior maneira. Ocorreu o pior, e o novo
primeiro-ministro pode ser o último do RU com a atual geografia. Há sempre um
Trump à espera de um eleitorado desorientado.
Rui Rio – A política é frequentemente injusta e o
atual líder do PSD, cuja competência e princípios éticos seria ofensivo
comparar com os do antecessor, arrisca-se a ser vítima da maior derrota
histórica do partido cuja presidência ganhou contra Santana Lopes.
Salazar – O desejo de sucessivos autarcas de Santa
Comba Dão de criarem o museu do ditador, não é uma intenção de condenarem o
fascismo e denunciarem os seus crimes, é a descarada tentativa de erigirem um
santuário para a peregrinação de antidemocratas.
Pena de morte – Os EUA vão retomar as execuções a nível
federal, o que não sucedia desde 2003. A pena capital mantém-se em 29 estados,
embora muitos tenham aplicado moratórias. O retrocesso civilizacional está aí,
neste como noutros domínios.
Terra – Sem Planeta B, até 29 de julho a
humanidade consumiu todos os recursos que a natureza pode produzir num ano. Os
próximos cinco meses, a viver “a crédito”, três dias mais cedo do que em 2018, são
o roubo à sobrevivência futura dos filhos e netos.
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