Salazar – 49 anos de defunção

Uma localidade não tem culpa dos biltres que aí nascem, dos criminosos que a vida fez, do currículo de um ditador, mas não pode, por pudor, explorar como troféu um fascista. e exibir como herói um crápula.

É recorrente em Santa Comba Dão que o autarca de turno reivindique um museu para o mais ilustre dos déspotas e o mais torpe dos ditadores lusos.  Penso que só a ignorância os pode levar, não a fazer um museu da resistência, mas a incensar o ditador que fez de Portugal o País mais atrasado da Europa, com os índices de analfabetismo, mortalidade infantil e neonatal a liderar o Continente.

Quando se esquecem os presídios salazaristas, os assassinatos de adversários, as torturas e as perseguições do regime fascista, aparece um edil que reincide em querer preservar a memória do ditador numa lógica de culto da personalidade do criminoso, na tentativa de branquear o passado e, quiçá, transformar em modelo de admiração o objeto de repulsa.

Não se exige a um edil que não sofreu a ditadura, que saiba o que foi a guerra colonial, o degredo, o exílio, as perseguições, a emigração, os Tribunais Plenários, o massacre de Batepá, em S. Tomé, a Pide e outras organizações terroristas ao serviço da repressão, mas exige-se-lhe que, em democracia, respeite as vítimas e esqueça um algoz que quer converter em símbolo do passado cuja catarse impede.

Salazar era um fascista. Na sua secretária, à falta da mulher que amasse, de um filho que não quis, era a foto de Mussolini que o embevecia, o exemplo sinistro que o inspirava, o modelo por que pautou a sua governação.

O nojo, a raiva e o desespero juntam-se, não tanto pelo ditador que continua morto, mas pelo autarca capaz de ofender a memória de um país e de incensar o responsável pelo atraso e sofrimento de um povo.

No dia em que morreu o déspota, 49 anos depois, aparece a notícia do desejo do autarca em ofender o povo para branquear a mais longa ditadura do século passado.

Fascismo, nunca mais!

Comentários

Jaime Santos disse…
Acho que nos faz falta um museu dedicado não a Salazar mas sim ao Estado Novo. Não apenas um que se centre na resistência e repressão, mas que abarque toda a História de Portugal nesses malfadados 48 anos. Enfim, o atraso, a miséria, as relações ambíguas com os regimes fascistas e com o aliados ocidentais, o racismo e a exploração das e nas colónias, a guerra, etc. E aí a figura de Salazar, o seu pensamento e ação política, deveriam ocupar lugar central, pelas piores razões, claro está. Se fosse isto que o Autarca de Santa Comba propõe, teria o meu aplauso. Duvido é que seja...

Mensagens populares deste blogue

Divagando sobre barretes e 'experiências'…

26 de agosto – efemérides