O SNS e a campanha demolidora em marcha

No Natal, um dos meus melhores amigos, com laços vindos da infância e preservados ao longo de toda a vida, conterrâneo e condiscípulo no liceu, teve um AVC nas terras de origem, onde se deslocara para a tradicional Festa da Família.

A mulher, deu-se conta das perturbações da fala, locomoção e desorientação do marido, e chamou imediatamente os bombeiros. Uma hora depois estava no Hospital da Guarda, um hospital da periferia, onde – disse-me o próprio –, foi atendido de forma exemplar.

Sei que as primeiras horas de um AVC são fundamentais para a recuperação e que delas depende a limitação dos danos e a natureza do prognóstico. O que não sabia era que as novas tecnologias permitem ao hospital da Guarda estar em contacto com as unidades de AVC de Coimbra e Porto.

A qualidade do atendimento, o desvelo dos profissionais e os meios disponíveis do SNS permitiram o rápido restabelecimento de um “rapaz da minha idade”, tratado da mesma forma que os outros doentes e que, segundo ele, não seria melhor tratado em nenhum dos estabelecimentos particulares de saúde.

A mim, que sou amigo de quem sentiu a obrigação de me comunicar o estado de saúde, interessa-me muito o caso pessoal, mas, para o cidadão que também sou, foi gratificante saber que um hospital da periferia pôde salvar a vida de uma pessoa que já se encontra em condições de gozar a companhia dos netos que, naquela noite, deixou num estado de confusão, por entre a ansiedade dos filhos e da mulher.

Quando o PR sente necessidade de justificar o seu voto contra o projeto-lei que criou as bases gerais do SNS, por não ter concordado com o articulado, e uma respeitada figura do PSD se atreve a atribuir ao partido méritos que não teve, para esconder a vergonha, é altura de divulgarmos o muito devemos ao único instrumento que iguala ricos e pobres na tarefa diária que permitiu a Portugal atingir os níveis dos países mais avançados e dar aos portugueses quase duas décadas mais de esperança de vida.

Uns por maldade, outros por ignorância e, quase todos, por razões partidárias, procuram entregar aos grupos económicos a saúde dos ricos e a dos pobres às Misericórdias, quer às da Igreja quer à divina. E a doença não se cura com ave-marias.

Apostila – O amigo a que me refiro é médico. Não tenho o direito de o expor publicamente, mas ele não faz segredo e é um panegirista do SNS a que, pela primeira vez, se entregou na qualidade de doente e em risco de vida ou invalidez.

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