A pagela n.º 71
Em 22 de junho de 1956 os bispos portugueses, reunidos em
Fátima, 39 anos depois do maior embuste encenado em Portugal contra a
República, já a acomodarem os segredos contra o comunismo, e ainda longe, após
a implosão da URSS, de os afinarem contra o ateísmo, publicaram a pagela n.º
56.
Aquela cáfila paramentada, com recalcamentos sexuais e uma
misoginia fertilizada nas ‘manhãs submersas’ de que falava Vergílio Ferreira,
depois de despachado o breviário, reuniram-se para refletir e mandar divulgar
pelos padres das paróquias a sã doutrina da Igreja católica e os bons costumes
que a moral de empedernidos celibatários exigia.
Tal como haviam feito os homólogos espanhóis, os bispos
publicaram códigos morais, sobretudo para mulheres, no que respeitava à
cobertura do corpo, essa fonte de pecado que Eva deixara em herança, a todas as
mulheres, depois de comer a maçã.
Em 1953 já este escriba fora fustigado com 4 sacramentos e acabaria
por dispensar os serviços pios desse exército de funcionários de Deus que
exigiam à mulher o pudor que, sob a mitra, tais cabeças dariam à estampa quatro
anos depois.
A pagela n.º 71, de 22 de agosto de 1957, que me foi
oferecida, é a relíquia pia que sinto obrigação de divulgar.
Já imaginaram a leitura, em todas as igrejas, por um
exército de tonsurados, a exibirem os paramentos, enquanto ameaçavam as
mulheres com as penas do Inferno cuja pintura das cores e imaginação dos
horrores lhes cabia?
O cardeal Cerejeira, defensor da guerra colonial que
designou por «defesa da civilização cristã e ocidental», há de ter presidido ao
conclave que o recalcamento da líbido levou a tão pudicos e cristãos
ensinamentos.
O bando de devassos, que só pensava em sexo, foi o
sustentáculo da ditadura que moldou a Igreja para perpetuar o regime e o
sofrimento inútil da mulher.
Maldita misoginia clerical!
Capa e pág. 4 |
Pág. 2 e 3 |
Comentários
Eu tive esses medos até 1957. Curei-me com 14 anos.