OE/2021
Discute-se o Orçamento perante a pandemia que já consumiu uma década de reservas de pensões e, em cada dia que passa, se desatualiza e aguarda um Orçamento Retificativo que, de novo, abrirá feridas nos partidos que viabilizaram o Governo que pôs fim ao cavaquismo e à deriva neoliberal de Passos Coelho e Portas.
Há razões ideológicas que fraturam as esquerdas, e há outras
que não se compreendem. Não parece ser de esquerda a exigência generalizada de
aumentos salariais e de pensões perante uma queda do PIB de dois dígitos.
Aumentar os mínimos de salários e pensões é solidariedade,
aumentar percentualmente todos é oportunismo eleitoral e agravamento do fosso
salarial, já obsceno, e que deviam ser as esquerdas, no seu conjunto, a procurar
a sua redução.
As eleições presidenciais vieram inquinar a discussão
orçamental e não surpreende que a ligeira alteração da correlação de forças que
estas eleições provocam seja o princípio de um terramoto nas legislativas.
Quando, à força de se querer conquistar o eleitorado com o
Orçamento de Estado, se vai cavando o fosso entre quem legisla e quem é
governado, corre-se o risco de os eleitores migrarem para a abstenção ou
acantonar-se à sombra de demagogos que lhes prometem a paz dos cemitérios e a
liberdade do silêncio e da repressão.
São inegáveis as clivagens entre os partidos de esquerda, e
há sempre quem se engane no ruído que faz e nas manifestações de força que
gosta de exibir. Há quem não entenda que o Orçamento não é elástico e os
eleitores, sabendo pouco de macroeconomia, sabem de microeconomia o suficiente,
para extrapolar.
O partido que o eleitorado considerar responsável pela
chantagem e irredutibilidade na aprovação deste OE será inexoravelmente punido nas
urnas e a perceção vai depender menos da realidade do que da aparência e da leitura
que os média fizerem.
O BE obteve nos Açores o que parece ser seu desígnio, derrubar
o PCP, cuja falta se há de sentir, e, tornou-se irrelevante na formação do
governo regional. No País, depois de declarar o voto contra o OE, na generalidade,
tornou-se tóxico, responsável pela entrega da decisão orçamental ao PSD.
Ninguém esquece que o País está perante a maior crise económica, financeira,
social e sanitária de um século e cujo desfecho é imprevisível.
Quanto mais incerto é o futuro maior é a volubilidade dos
eleitores e é fácil adivinhar as transferências de voto provocadas pela
rivalidade dos partidos de esquerda.
Até os apoiantes se cansam.
Comentários
E deixar passar um orçamento na generalidade, nas circunstâncias que o texto bem descreve, só se daí lhes advier vantagem.
O que não precisamos no actual contexto é de teatralização, de grilinhos falantes ou de grilinhas falantes. Já não há pachorra!
E acha possível fazer frente ao atual PR?
Tal como Cavaco mandou votar em Mário Soares, o que ele certamente não fez, também agora António Costa poupou o PS a uma derrota sem levar um voto a Marcelo.
Eu votarei sempre num candidato de esquerda e, desta vez, posso escolher.
Os candidatos que o BE e o PC escolheram, nem sequer entram no eleitorado alheio. Juntamente com o PS, estão propositadamente a cumprir calendário, a estender a passadeira ao actual PR ..
E os eleitores, aqueles que se vão revendo nos partidos, não merecem mais do que estas desistências, estas visões partidárias ?
A partir do minuto 13:35 ouvimos aqui:
https://sicnoticias.pt/opiniao/analise/2020-10-23-Dificuldades-do-SNS-StayAway-Covid-e-eleicoes-nos-EUA.-O-Tabu-de-Francisco-Louca
- “… mas, para essa convergência política não seria mais coerente uma outra posição para depois da generalidade conseguir aqui ganhar outras exigências …”
- “ Isso veremos! Repare, há aqui uma … é preciso que as condições do debate da generalidade e depois da especialidade que é o que vai ocorrer sejam determinantes de uma política consistente nestas matérias … agora eu acho que neste fim de semana todos vão ficar contentes: o governo está contente porque passou o orçamento na generalidade, o PCP passa a ter um papel interveniente e porventura decisivo no debate da especialidade e eu acho isso muito positivo, acho isso extraordinariamente importante … …
… … e o Bloco fica numa posição forte porque pode pressionar nas questões mais decisivas … …”