RTP – Fátima Campos Ferreira e António Barreto
Depois de 18 anos de Prós e Prós e Contras e Contras, conforme as conveniências, a D. Fátima, enquanto aguarda a canonização pela Igreja de Roma, na véspera do aniversário das bem-engendradas aparições de que tem o nome, serviu como primeiro convidado do programa, “Primeira Pessoa”, uma assombração – António Barreto.
O ex-emigrante que usa o pseudónimo de ex-exilado e aceita ser referido por socialista, desde que Mário Soares o vestiu de ministro da Agricultura e se convenceu de que tinha queda política, é o homem de mão das televisões reservado para combater as esquerdas.
Foi este sociólogo, a quem Marcelo outorgou o mais alto grau da Ordem da Liberdade, por erro de perceção, confundindo devoção ao Liberalismo com amor à Liberdade, que a D. Fátima levou ao seu novo programa, “Primeira Pessoa”.
Entre vários atributos, foi referido que “até já foi, no passado, apontado como possível candidato a Presidente da República”, ficando aquém do Tino de Rãs que foi mesmo.
Para não gastar mais cera com tão ruim defunto, deixo o esboço biográfico da primeira pessoa que Dona Fátima exibiu e a quem, há três anos, fiz o currículo quando mais uma venera coloriu o carrancudo provinciano a quem a sisudez acrescenta gravidade.
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«Que sentirão os capitães de Abril e outros combatentes da liberdade?
António Barreto, com sinuoso percurso político, nunca foi um combatente da liberdade, mas recebeu no último 5 de Outubro, à semelhança de Cavaco Silva, o mais alto grau da Ordem da Liberdade, também por outorga do PR Marcelo Rebelo de Sousa.
Militante do PCP de 1963 a 1970, na Suíça, para onde fugiu à guerra colonial, deixou o partido comunista porque não estava suficientemente à esquerda.
Só regressou a Portugal depois do 25 de Abril, para apanhar o comboio do poder através do PS, de onde saiu para apoiar como ‘Reformador Democrático’ a AD, liderada por Sá Carneiro, contra a esquerda.
Regressou ainda ao PS para ser deputado (1987/91) e, depois de frustradas as ambições de líder e ideólogo, afastou-se definitivamente para a área afetiva ao serviço da qual é comentador avençado. Exerce, aliás, um direito, que lhe rende bons proventos, e cultiva uma fachada de isenção partidária.
Nessa circunspecta postura mereceu o mais alto grau da Ordem Militar de Cristo, a Grã-Cruz, pelo incógnito democrata Cavaco Silva, e acabou a receber idêntica distinção da venera que devia ser reservada a quem se sacrifica pelo valor de que recebe o nome.
Que sentirão os heroicos capitães de Abril a quem devemos, por inteiro, a liberdade que nos devolveram e que tão poucos foram os condecorados com tão elevado grau?
Que sentirão os presos políticos, os torturados, os militantes clandestinos, os homens e mulheres que viram as vidas desfeitas, as liberdades cerceadas, os empregos perdidos e as famílias ostracizadas, no combate à ditadura fascista?
Que sentirão as famílias de assassinados, deportados e exilados, que viveram o medo, a raiva e o desespero, que sofreram a fome, a repressão e o desprezo de quem não teve a coragem de enfrentar e afrontar o salazarismo?
À medida que nos conformamos com a amnésia coletiva, que transforma em benemérito quem trata da vida, em herói quem aparece depois de passado o perigo e como exemplo de cidadania os narcisistas, estamos a aceitar a reescrita da História, o branqueamento do passado e a reabilitação de trânsfugas sob a capa de independentes.
Não há pachorra!» ( 07-09-2017)
Comentários
Ele deveria saber que o inimigo adora a traição mas odeia o traidor. Foi por isso que ele nunca passou de uma figura menor pelos lados da Direita.
Ele deve andar a matutar por que razão é que, se a nossa Direita e ele são tão inteligentes, Liberais, Cosmopolitas, etc, o povo lhes paga com a ingratidão da Oposição e persiste em eleger esse Partido de corruptos esquerdistas a que ele pertenceu, o PS.
A resposta estará provavelmente no facto de quem nem eles são nada do que se julgam, nem o PS (o Partido da Liberdade e da Democracia) é tão mau como o pintam. E depois, ao menos os Socialistas têm o coração do lado certo (bate naturalmente à Esquerda).
Aconselha-se a que se estabeleça em Oxford, seja feliz e de preferência não volte... Não há mesmo pachorra...
«Ele deveria saber que o inimigo adora a traição mas odeia o traidor. Foi por isso que ele nunca passou de uma figura menor pelos lados da Direita.»
Excelente observação. Obrigado.
O PSD é um Partido que provavelmente odeia muito mais os maçons que quaisquer outros (a tradição do PS também é anti-comunista, aliás). O que lhe está mesmo na massa do sangue é o espírito dos caciques do Estado Novo, mau grado as elites que o fundaram. O líder político que melhor o representa não é Sá Carneiro e sim Cavaco Silva...
Obviamente, com a profusão das lojas, claro que hoje aceita maçons como Luís Montenegro ou Miguel Relvas. Nem quero imaginar o que pensariam deles pessoas como António Macedo ou Manuel Tito de Morais...
Isso deveria servir de aviso sério a Sérgio Sousa Pinto, que parece que caminha a passos largos para passar de enfant-terrible da JS e defensor de causas fraturantes na sua juventude a nouveau-réactionnaire na atual meia idade.
Não me convencia na época e também não me convence agora. É outro, como Barreto, que o que quer mesmo é aparecer...