Candidaturas independentes, partidos e democracia

Já várias vezes manifestei suspeitas sobre as candidaturas independentes, diferente de candidatos independentes que integram listas partidárias e assumem o seu programa.

Nas últimas eleições autárquicas de Coimbra perguntei à comitiva “Somos Coimbra”, da candidatura à junta de freguesia dos Olivais, se eram de esquerda ou de direita. Fui informado que não eram de direita nem de esquerda, o que a líder (?) corroborou.

Agradeci e disse-lhe que, sendo assim, tinha percebido que era de direita. Curiosamente, a lista integrava ilustres académicos, distintos profissionais nos seus ramos de atividade e democratas de direita, muitos deles oriundos do PSD.

O cabeça de lista à Câmara Municipal fora o antigo e prestigiado bastonário da OM, que honrou o cargo, militante do PSD preterido nas ambições autárquicas. Acompanharam-no, entre outros, cidadãos tão respeitáveis como o cientista e catedrático Carlos Fiolhais.

Os independentes autárquicos são quase sempre figuras com relações e influência local, preteridos pelo partido, que não conseguiram, depois de 4 anos de interrupção legal, que o substituto lhes franqueie a porta para mais doze anos ou que apenas desejam vingar-se do seu partido.   

Em Coimbra, o médico e ex-bastonário José Manuel Silva “Foi Coimbra”, e o convite do PSD fê-lo abandonar o “Somos Coimbra” para regressar “Sou PSD”. Não sei que desculpa dará aos que o julgaram dissidente, mas é um caso paradigmático de falta de ética política e de respeito partidário.

Os partidos desistem da coerência ideológica, preocupam-se com a aritmética eleitoral, preferindo a um bom candidato qualquer outro que conquiste a autarquia.

Em Lisboa, o PSD foi buscar um militante que abandonou o lugar prestigiado e cómodo de administrador da Gulbenkian para se lançar na louvável e incerta disputa eleitoral, o que honra o partido e o candidato.

Em Coimbra, não.

Apostila – Antigamente a transumância era exclusiva de pastores, à procura de melhores pastos para o gado. Hoje é praticada por partidos, em busca de municípios para autarcas que esgotaram os prazos no anterior.

Ponte Europa / Sorumbático

Comentários

jose amador disse…
Dos ingénuos está o inferno cheio. Os interesses de Lisboa não serão superiores a um cargo de administrador da Fundação Gulbenkian?!
Monteiro disse…
Uiii a Fundação Gulbenkian, que grande Albergue.

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