A GUERRA DA UCRÂNIA
É de tal modo dilacerante a tragédia que cresce diariamente, as mortes que ocorrem, os mutilados que se ignoram e o êxodo de mulheres e crianças em fuga, que estarrece não haver quem se empenhe na procura da paz para pôr fim à destruição, à carnificina e à Espada de Dâmocles nuclear que paira sobre o Planeta.
Quando todos sofrem, é menos importante saber quem é o
agressor e o agredido do que salvar as vidas que restam, os haveres que existem
e um módico de clemência de quem é obrigado a combater para defender interesses
que não são necessariamente seus.
Nunca houve tanta irracionalidade e violência sem que a
opinião pública se mobilizasse contra a guerra. O Papa Francisco e, de forma tímida
e condicionado, António Guterres, parecem ser os únicos a desejarem o fim da
tragédia de milhões de refugiados e famílias destruídas, enquanto a comunidade
internacional se divide entre os indiferentes e os que pretendem a paz depois
da eliminação de um dos lados. Ou de ambos!
Aliás, nunca uma guerra entre dois países teve tantos países
abertamente interessados. Surpreende que um país mártir não solicite ajuda médica,
medicamentosa e humanitária, e apenas exija armas de destruição maciça e a adesão
global ao conflito.
Há algo que escapa à verdade e ao entendimento entre cerrada
propaganda, enquanto a Rússia e a Ucrânia se destroem, arrastam para a miséria
outros povos e comprometem o futuro da Humanidade.
Desde a intolerável linguagem dos líderes à amoralidade das
declarações, assistimos ao desejo mórbido de quem prefere mortos a sobreviventes.
Haverá ainda dúvidas sobre os interesses que se movimentam
na geoestratégia mundial, sobre os negócios de armas e a conquista da hegemonia
económica, política e militar?
Não é com insultos, recriminações e desejos de
aniquilamento, de parte a parte, que se alcançam tréguas.
É urgente dar uma oportunidade à Paz e calar as armas, as ameaças e as acusações.
Comentários
Importa antes de tudo acabar com a falsa simetria que existe entre a Rússia e a Ucrânia. A Rússia é o agressor que pretende concessões territoriais da Ucrânia (agora que a tomada do poder em Kyiv falhou) e a acreditar nas múltiplas reportagens que nos chegam, parece utilizar a arma do terror (violações, tortura e assassínios de civis) como forma de punir os ucranianos pela sua resistência heroica à dita agressão.
Não tenho nada a ver com aquilo que os ucranianos decidirem fazer, mas enquanto estiverem disponíveis para resistir, o mínimo que merecem é que não os abandonemos.
Não tenho ilusões sobre os dois nacionalismos que se digladiam, o russo e o ucraniano, assim como sobre a natureza oligárquica do poder em ambos os Países, sucede que é a Rússia que invade a Ucrânia e não o contrário, e se Zelensky não é perfeito, é ainda assim um líder democraticamente eleito e centenas de vezes melhor que o maquiavélico Putin.
Registo ainda a caricatura e o seu whataboutism, que encerra duas possibilidades sobre quem o invoca.
A primeira é de que as violações sucessivas do Direito Internacional pelos EUA desculpem as da Rússia, o que quer dizer que as ditas regras se tornaram obsoletas e devem ser substituídas, presume-se que pela lei do mais forte. É uma posição coerente, mas cruel. Putin (ou Hitler) seguramente que a aprovaria.
A segunda é que quem recorre ao whataboutism concorda com a justeza das regras, simplesmente manda calar quem critica a Rússia porque não tem moral para falar.
Ora, olhando para a natureza das violações do DI e dos DHs perpetradas pela Rússia na Ucrânia, a hipocrisia de quem denuncia deveria ser o mínimo que deveria preocupar quem considera que as ditas regras justas estão a ser violadas. Se os moralmente puros estão demasiado ocupados a denunciar a hipocrisia dos críticos, cabe aos moralmente impuros falar pela Ucrânia e pelo seu povo.
A não ser que, claro, quem recorre ao whataboutism apoie a ação russa e revele assim a sua própria hipocrisia, dado que considera que a denúncia só deve ser feita quando são os EUA a violar as regras. Como faz entre nós o PCP, por exemplo, e não é de hoje, basta lembrar a repressão da revolta em Berlim em 1953 pela URSS, ou as invasões soviéticas da Hungria, Checoslováquia ou do Afeganistão.
Como o Carlos não é pessoa para ter nem a primeira posição nem a segunda, suspeito que recorreu à caricatura por desespero perante a escalada de guerra. Lamento, mas suspeito também que a guerra terá que escalar mais.
Putin é um líder com a mentalidade de chefe de clã e só vai parar quando perceber que o seu adversário está pelo menos tão determinado quanto ele. Se sair desta aventura com ganhos territoriais, seguramente que não demorará muito até invadir um País da NATO, esperando talvez pelo regresso do seu compincha Trump à Casa Branca.
A mim, ele parece-me mais um chefe mafioso que exige lealdade a quem está abaixo de si (para ele, respeito é sinónimo de medo) e que se não a obtém, decide empreender uma ação exemplar contra quem ousa desafiá-lo. É o que está a acontecer na Ucrânia.
Bem entendido, Putin não está muito longe do pensamento de um Cheney ou de um Kissinger, mau grado os supostos dotes intelectuais deste último. Basta recordar o infame 'anything that flies on anything that moves' quando ordenou o bombardeamento do Camboja.
Agora, temos Medvedev (uma espécie de Kissinger de segunda linha de Putin) a comentar que a Ucrânia está transformada num estado nazi e merece o destino da Alemanha de Hitler.
Isto parece-me um apelo ao genocídio, tal como as palavras do Secretário de Estado de Nixon e Ford, mesmo se eu compreendo e concordo com a prudência de Macron ao não invocar tal conceito enquanto PR de França.
Mas a comparação com outros criminosos do Passado não deve fazer-nos esquecer que de momento, é ele que tem que ser detido ou pelo menos contido, e não outros.
A indiferença dos cidadãos perante o perigo iminente de uma guerra nuclear é chocante. Mas não é de agora - é desde o golpe da praça Maidan, em 2014, quando se começou a perceber com clareza que a estratégia americana para encurralar a Federação Russa conduziria fatalmente a este desfecho, mais cedo ou mais tarde.
Ainda maior é a irresponsabilidade dos ineptos dirigentes europeus. Servis às estratégias de Washington, deixaram que nos atirassem para uma guerra que pode acabar muito mal para todos nós.
E não nos iludamos; a guerra só terminará se e quando os "falcões" do outro lado do Atlântico se derem por satisfeitos com o resultado obtido e assim desejarem. E duvido que eles o desejem.
Quanto à Rússia ficar encurralada, sem dúvida que agora ficará ainda mais, quando se perspetivam as entradas da Finlândia e da Suécia na NATO e o isolamento total da sua Economia.
Mas se a Rússia não quer ser vista como ameaça, que não se comporte enquanto tal. Se quer ter garantias de segurança, que as forneça aos seus vizinhos, em lugar de considerar que não as precisa de as dar porque é uma superpotência e porque pode pois, como se vê, invadir quem quiser se se sentir ameaçada (não se perspetivava uma adesão da Ucrânia à NATO desde da criação do conflito congelado do Donbass em 2014).
O perigo de uma guerra nuclear só será iminente se a Rússia utilizar ADM na Ucrânia. Não é Biden que tem o dedo no botão dos mísseis russos, é Putin.
Foram os "bons" que grelharam a napalm milhões de pessoas no Vietnam, sem selecionarem alvos, arrasando tudo o que mexia, em cidades, vilas e aldeias, crianças, mulheres, velhos; que despejaram dezenas de milhar de toneladas de bombas sobre o Iraque, arrasando cidades vilas e aldeias, provocando centenas de milhar de vítimas, mortos ou estropiados, e saquearam o património histórico milenar daquele pais; que repetiram a proeza em muitos outros cenários - Jugoslávia, Síria, Afeganistão, Líbia, ... etc.
Nunca ninguém os julgou, ou lhes chamou sequer "assassinos", ou "criminosos de guerra". O pior que aconteceu ao Bush (filho) foi ter levado com um sapato de um jornalista iraquiano; e ao seráfico Obama, que fez equipa com a sra. Clinton e com Biden e, juntos, mandaram destruir a Síria e transformaram a Líbia (o país mais próspero de África) no estado falhado que é hoje, até agraciaram com um Prémio Nobel da Paz!...
Foram estes mesmos "bons", que projetaram esta guerra na Ucrânia, projeto forjado pelo seu "think tank", a RAND Corporation, ligada à indústria militar, e com a prestimosa colaboração de agências especializadas, como a CIA e o "british" MI6. E são os eles que financiam e alimentam a guerra, e que continuarão a fazê-lo até às últimas consequências.
Eles estão-se borrifando para os ucranianos, que usam como seus procuradores para fazerem a guerra em seu nome, mera carne para canhão. O Zelenski é o seu homem de mão, homem dos "Panama Papers" e íntimo dos oligarcas ucranianos, que não tem escrúpulos em sacrificar o seu povo aos interesses dos "bons", nem em recorrer a forças assumidamente nazis, que controlam o aparelho militar ucraniano.
Os "bons" querem é que russos e ucranianos se exterminem mutuamente, para eles poderem recolher o espólio final - o livre acesso às imensas riquezas que sabem existir naquela região do globo.
São estes "bons", os inocentes, amados pelos que se recusam a ver, que podem acabar com a vida como a conhecemos no planeta, se ninguém os impedir.