O 25 de Abril e o 25 de novembro
Com a celebração em curso do cinquentenário do 25 de Abril e com um partido fascista fortemente representado na AR, ressurgiu o ressentimento à democracia, a nostalgia da ditadura e a saudade do império perdido, após 48 anos de democracia.
De forma tosca ou mais elaborada é o apelo ao autoritarismo
e ao Estado policial que se vislumbra em quem destila ódio aos militares de
Abril, legitima a guerra colonial, remói a raiva à Revolução e teme uma
pneumonia com a aragem da liberdade.
Andam aí os filhos dos bufos, rebufos e salazaristas, répteis
do Estado Novo, alheios às prisões, torturas, perseguições e medos da ditadura.
São negacionistas dos assassinatos da Pide, ressentidos da liberdade que os
capitães de Abril outorgaram, invejosos dos filhos dos pobres que chegaram à
universidade e que preferiam andar de rastos, num país orgulhosamente só, a
viver de pé, em democracia.
Há descendentes dos cúmplices da ditadura, dos que batiam
palmas e davam vivas ao ditador, dos fascistas embrutecidos e orgulhosos do
analfabetismo, tão minguados de ideias como os que agora insultam a liberdade ignorando
o que foi a censura, o degredo, as prisões arbitrárias, a violação da
correspondência, os Tribunais Plenários, a tortura, a fome e a guerra colonial.
Uns não sabem o que isso era e outros julgam que era como
lhes disseram, e trazem no sangue o ressentimento dos delatores, a raiva dos
lacaios e o espírito vingativo de quem odeia a liberdade.
É neste quadro de amnésia coletiva que os mais boçais
pretendem rasurar do calendário o 25 de Abril e os mais sofisticados apelam às
comemorações do 25 de novembro.
É tempo de se penitenciarem os que acusaram o 25 de novembro
de ter traído o 25 de Abril, como se houvesse traição na liberdade que o MFA
prometeu, nas eleições livres que nunca mais deixou de haver e no respeito pelo
voto universal e secreto de cada ato eleitoral.
Faltou aos devedores de Abril, que todos somos, sobretudo aos
democratas, explicarem aos fascistas, que usam o 25 de novembro contra o 25 de
Abril, que há apenas uma data que resgatou Portugal do pesadelo de 48 anos de
ditadura – o 25 de Abril.
Houve no processo revolucionário da mais bela Revolução do
mundo, sobressaltos que a trouxeram à normalidade democrática que os capitães
do MFA prometeram, antes de regressarem aos quartéis, sem exigirem nada em
troca do seu heroísmo e generosidade.
O 25 de Abril teve o 28 de setembro, o 11 de março e o 25 de
novembro, sendo o último sobressalto o que mais dividiu os militares de Abril e
a sociedade portuguesa, e não foi a data que os fascistas querem comemorar, com
vergonha de celebrarem o 28 de maio.
Vale a pena, apesar das feridas, lembrar aos fascistas quem liderou
o 25 de novembro, e confrontá-los com os heróis de Abril que intervieram nesse episódio
da Revolução de que se quiseram apropriar.
O comandante foi o gen. Costa Gomes e as operações da responsabilidade
da Região Militar de Lisboa, comandada pelo então gen. Vasco Lourenço, com o
apoio de nove conselheiros da Revolução, Melo Antunes,
Vasco Lourenço, Pezarat Correia, Franco Charais, Canto e Castro, Costa Neves,
Sousa e Castro, Vítor Alves e Vítor Crespo.
Com exceção dos dois representantes da FA, ramo com escassa
participação no 25 de Abril, com a gloriosa exceção do cap. Costa Martins, eram
todos militares destacados do 25 de Abril.
O Governo Militar de Lisboa confiou as operações ao ten. cor.
Ramalho Eanes, que teve no regimento da Amadora, de Jaime Neves, a maior força militar
sob as suas ordens. O resultado é conhecido e o Grupo dos Nove havia de
designar Eanes candidato a PR.
Não foi em Eanes que os fascistas, nem os democratas mais à
direita, votaram. Foi no gen. Soares Carneiro que tinha no currículo o comando
do Presídio de S. Nicolau e que Cavaco Silva voltaria a reintegrar na vida
militar ativa e promoveria a CEMGFA numa ofensa a Eanes e aos militares de
Abril.
Gostaria de ver os que incensam o 25 de novembro de 1975 a
aplaudir Costa Gomes, Melo Antunes, Vasco Lourenço, Pezarat Correia, Franco
Charais, Sousa e Castro, Vítor Alves e Vítor Crespo. Não o fazendo, fica a
certeza de que não é o 25 de novembro que aplaudem, é o 28 de maio que
acalentam.
Há um grito de júbilo a soltar, vivas à liberdade a bradar e
um ruído patriótico a acalmar os nostálgicos da ditadura e o seu desejo de
regresso ao passado na celebração e m curso do cinquentenário da Revolução de
Abril.
Viva o 25 de Abril!
Ponte Europa / Sorumbático
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