Três personalidades, três discursos e um percurso sinuoso

Coube às três personalidades que ocupam os primeiros lugares na hierarquia do Estado fazerem os discursos que marcaram o início da nova legislatura.

O presidente da AR fez um excelente discurso de Estado, impoluto na forma e cuidado na substância, à altura das funções e do órgão de eleição dos regimes democráticos que, em Portugal, república parlamentar, é perante quem responde o PM. Foi o coroar da sua longa carreira política em simultâneo com a brilhante carreira académica. O seu trajeto está, como o de todas as figuras públicas, sujeito ao escrutínio da opinião pública.

O PR, na tomada de posse do Governo, onde as funções são essencialmente litúrgicas, fez um discurso bonito na forma e intolerável na substância. O PR não é o treinador do Governo nem este responde perante ele. Não é o carcereiro do PM nem o intérprete da vontade popular expressa nas eleições, que só aos partidos representados na AR cabe interpretar. Marcelo julga ter um qualquer direito de pernada que, a existir, terminou na Idade Média. Não está em Moçambique onde, na qualidade de filho de um Ex Grande Régulo, se permitiu recentemente um discurso paternalista. Não estava na Ilha de S. Jorge, como vulcanólogo, a prever a benignidade dos abalos telúricos ou, em frente aos microfones, a comentar o jogo de futebol da Seleção Nacional. O discurso da tomada de posse do Governo teria sido excelente se fosse feito por Rui Rio, se pudesse discursar. O mestre de cerimónias escolheu o sítio errado e o momento inadequado para se empossar como líder da oposição.

Finalmente, o PM fez um discurso de otimismo em momento de apreensão, de combate ao desânimo, de esperança num futuro que sabemos ensombrado, mas com ânimo para dissipar o medo, a ansiedade e angústia que a guerra acrescentou.

Finalmente, os comentadores discorreram largamente sobre o que o PM respondeu ou se esquivou a responder aos ruídos do discurso do PR, como se dois discursos previamente escritos pudessem ser o jogo de ping-pong de uma guerrilha que o azougado PR parece querer alimentar. Pareciam parvos.

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