Cavaco Silva e o artigo no Público, hoje, 11-04-2022

Quem julgava o velho salazarista remetido a cuidar dos netos e a gerir as numerosas reformas que acumulou, algumas de forma suspeita, e os pingues rendimentos que os negócios lhe proporcionaram, enganou-se. O “mestre da banalidade”, como o definiu o Nobel do nosso contentamento, interrompe periodicamente a conferência dos extratos bancários e migra para as páginas dos jornais a bolçar o ressentimento que o consome.

Não é o ódio do reacionário aos adversários, que considera inimigos, que surpreende no político que aceitou constrangidamente a democracia, sendo o que mais beneficiou dela, é a desfaçatez do cobarde a falar de coragem, do inculto que aceitou ser catedrático de Literatura pela Universidade de Goa sem mostrar ter lido uma única obra literária, do intriguista que escondeu a mão quando o seu chefe da Casa Civil, Fernando Lima e o então diretor do Público se conluiaram numa perfídia para destruir o PM.

A grande afirmação do artigo no Público é a ofensa gratuita e pusilânime ao PM a quem quis negar a posse que a AR e a CRP lhe exigiram. O “grau de coragem política muito baixo” de que acusa António Costa é a inaptidão deste para comprar ações não cotadas na Bolsa, para si e família, a um dedicado amigo e futuro presidiário, de quem aceitou chorudas mais valias, ou adquirir uma sumptuosa vivenda na praia da Coelha, de origem suspeita, com trapalhadas fiscais e insólitos meandros na transação.

Cavaco cita uma afirmação sua, inócua, de há 30 anos para exibir competência, e acusa os governos de António Costa e o PS de responsáveis pelo atraso de Portugal, esquecido dos seus governos e dos fundos europeus generosos que dedicou ao alcatrão enquanto destruiu as pescas, a agricultura e a rede ferroviária. Nem dos governos de Barroso e de Santana Lopes se recorda, naquela amnésia que o levou a esquecer os notários onde fez os grandes negócios pessoais.

O frustrado salazarista, que chegou ao 25 de Abril sem saber que vivia em ditadura, diz de António Costa que “a retórica e a mentira não produzem riqueza”, tendo experiência pessoal a abdicar apenas da retórica para enriquecimento pessoal.

O autoassumido ideólogo da social-democracia moderna quer “um poder político liberto de preconceitos ideológicos”, à imagem de quem não tem ideologia nem conhece a ética política. É um fóssil que escreve, um primata zangado com a sorte que lhe coube.

Cavaco não escreveu um artigo, fez um medíocre guião para o seu PSD, com a subtileza com que devora bolo-rei e a convicção de um autocrata a defender a democracia.

Quando este homem sai do sarcófago, onde o País o julga, é a raiva que surge contra os adversários, a vociferar contra o que lhe cheire a justiça judicial, com a baba a escorrer-lhe da comissura dos lábios e o desejo de vingança a guiá-lo.

Cavaco sempre disse que não era político, e tinha razão. Foi o anacronismo que alguns guindaram aos mais altos cargos, que o levaram a jantar à vivenda de Ricardo Salgado para fazerem dele a mediocridade nacional que alojaram dez anos em Belém.


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Divagando sobre barretes e 'experiências'…

26 de agosto – efemérides