Hoje foi cá Páscoa – um olhar ateu (não aconselhável a tementes a Deus)

A Páscoa é quando a religião quiser. Os judeus celebram a libertação da escravatura no Egito e os cristãos a ressurreição de Cristo, mais de quinze séculos depois. Coincidem no dia e divergem no milénio. Com o tempo, diluiu-se a memória do plágio e a razão da festa. Os cristãos ortodoxos complicaram o achamento do dia. É hábito recordarem a ressurreição de Jesus Cristo (JC) com uma semana de atraso, em relação aos católicos.

Hoje foi dia de Páscoa em Coimbra, data em que JC ressuscitou dos mortos, após breve defunção. Depois, andou quarenta dias a errar por Jerusalém, a fazer prova de vida para os que acreditaram e para os que acreditam que foi visto.

Ontem, ainda o ícone da lenda cristã jazia morto e já lautos repastos tinham lugar para gáudio da indústria da restauração. Hoje, consumada a ressurreição, oram raros os Cafés que abriram. Antigamente, neste dia, queria tomar um café e não encontrava onde.

Solto da cruz onde se finou, JC foi sepultado, como era costume, e, para alegria da fé a que deu origem, subiu ao Céu e sentou-se à mão direita de deus-pai, indivíduo de mau feitio cuja biografia vem num livro pouco recomendável, da Idade do Bronze, e de origem duvidosa – o Antigo Testamento.

Para mim, que há muito deixei de crer em pias fantasias e elucubrações religiosas, é-me indiferente que JC se dedicasse à carpintaria, para continuar o negócio da família, ou se afeiçoasse à pregação e aos milagres, naquele tempo um segmento promissor do sector terciário de uma economia rudimentar.

O que me doeria, independentemente dos laivos politeístas da ICAR, com um deus-pai, o deus-filho, a mãe do filho, a pomba e muitos filhos da mãe criados santos, era não ter um sítio para tomar café, como sucedia em tempos mais pios. E hoje ainda foi difícil.

Se a Páscoa da Ressurreição serve para relembrar o morto cansado da defunção, que se passeou entre amigos antes de emigrar para o Céu, e não fecharem todos os Cafés, não tenho razões de queixa, como em tempos remotos, com a beata greve da restauração.

Prefiro um café bem tirado a uma ressurreição bem-feita.

Coimbra, 17 de abril de 2022

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