Trump e Putin

Há dois políticos pelos quais nutro especial animosidade. Um foi afastado, é a vantagem da democracia, ainda que a sucessão não fosse auspiciosa, o outro é hoje notícia diária.

Ambos se esforçaram a estimular a extrema-direita europeia, talvez por proselitismo das suas ideias. Trump enviou mesmo o seu amigo Steve Bannon a dinamizar os partidos fascistas europeus, o vigarista que indultou no fim do mandato, por se ter locupletado com algum do imenso dinheiro que fora dado para investir na promoção do fascismo na Europa.

Putin foi o amigo de todos os extremistas do fascismo europeu, embora, como é próprio dos nacionalistas, tenha agora alguns contra si. É, aliás, uma situação comum ver países ex-comunistas em marcha acelerada para o fascismo.

O ataque a Kiev, durante a visita do secretário-geral da ONU, foi de tal modo insólito e cobarde que Putin perdeu muitos dos que lhe davam o benefício da dúvida na invasão da Ucrânia, atendendo às razões históricas e às vítimas russas das convulsões internas.

Putin conseguiu arruinar o seu país, destruir a Ucrânia, branquear a Nato, enfraquecer a União Europeia e robustecer o eixo anglo-americano, que terá no futuro a China como rival.

O armamento nuclear é suficiente para destruir o mundo, e irrelevante para salvar o seu país. A simples referência à possibilidade de o usar tornou Putin o monstro que facilitou a propaganda americana e transformou a Nato numa instituição benévola e Zelensky em alegado defensor de ideais democráticos.

Fez esquecer as hordas ucranianas que chacinaram russos, o célebre Batalhão Azov, os nazis de diversos países que estão na Ucrânia em treino militar, enquanto uniu contra si as diversas etnias que se digladiavam, os europeus e os americanos, as democracias e as ditaduras, numa orgia belicista que contaminou todos os que se esqueceram dos anos 30 do século passado.

Não há dúvidas sobre quem é o invasor e o invadido, e a presença da Embaixadora da Ucrânia em Portugal na manifestação privativa da Iniciativa Liberal, na comemoração do 25 de Abril, pareceu tão normal quanto o entusiasmo dos deputados que aplaudiram na AR quem proibiu os partidos ucranianos homólogos dos seus. Graças a Putin!

Os desejos de Paz deram lugar à fúria belicista que a mais sofisticada propaganda incita e os falcões desejam, indiferentes à tragédia que cada dia se agrava e ao holocausto que vive povo mártir da Ucrânia e a meaça tornar-se global.

A Rússia podia ter sido um aliado europeu e tornou-se um instrumento do Pentágono.

Maldito seja Putin, que branqueou gente não recomendável e transformou os russos, quer os que o detestam ou não, em cidadãos odiados pelos imbecis que não distinguem um ditador das suas vítimas.

Comentários

jose amador disse…
O imaginário em excesso torna-se doentio.
Nem tanto ao mar nem tanto à terra
Victor Nogueira disse…
E os EUA, seja qual for o Presidente em exercício, também não apoiam, financiam e patrocinam movimentos de extrema direita, se necessário patrocinando golpes de estado contra dirigentes que coloquem em causa os intersses da oligarquias estado-unidenses?
Jaime Santos disse…
Dar o benefício da dúvida a Putin, Carlos Esperança? A alguém que despreza a sua própria tropa (desastre do Kursk) e que tornou uma das suas cidades (Grozny) na mais destruída do planeta? A alguém que mente com todos os dentes que tem na boca e parece que faz gáudio disso?

Putin não é nem nunca foi um instrumento do Pentágono, honra lhe seja feita. A sua brutalidade e a total ausência de misericórdia são duas características que não surpreendem quem quer que lhe conheça o percurso.

O que Putin torna patente, isso sim, é a necessidade da existência da NATO, como suecos e finlandeses bem reconhecem, dado que se preparam para desistir da sua longa tradição de neutralidade e aderir à aliança.

Os EUA e a NATO podem ter cometido muitos crimes, mas para resistir a um bully armado com armas nucleares, são a única defesa que resta à Europa. Os lobos só conseguem vencer um urso em alcateia...

Quanto ao Whataboutism que por aqui perpassa, meus senhores, se os puros estão demasiado ocupados a apontar os pecados dos EUA, restam os impuros para falar pela Ucrânia...

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